quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A cereja que azeda

Bem, mesmo em meio aos zilhares ( trocadilhos infelizes me dominam em momentos de cansaço) de trabalhos na agência, decidi escolher um assunto complicado para um momento de vida em que ele está mais do que bem resolvido.

Provas de afeto. Já tive uma porção de relacionamentos e comecei a refletir sobre isso ao perceber que dentro do mundo fantástico do orkut há um bom indício contraditório sobre as provas de afeto. Não é uma regra, mas tenho lá minha pulga de 5 kg atrás da orelha com relação aos "orkuchos", aqueles profiles todos tchu-tchu/ nhu-nhu, repletos de inhos, que vão do carinho à síndrome de nanismo aplicada ao reino animal. Gatinhas, coelhinhos, lindinhos, fofinhos, e por aí vai, ao melhor estilo "Comercial da Parmalat para maiores", afinal, essa arca de Noé em miniatura fornica ( trepa), né?

Não sei você, leitor(a), mas em minha vida parece que quanto mais se prova e externa, mais mela. Até em filmes acho um indício de que as milhares de provas de amor, aquele entulho da construção de uma vida à dois tem uma aura de "yakult", sabe? Azeda.

Benzedeiras e macumbeiras de plantão deveriam ter a simpatia "How to fuck a relationship" com a crendice de que "minha filha", se você juntar 4 álbuns de orkut com fotos à dois e montagens à la "amor à dois na sua FM", uns 3 ou 4 presentes tipo travesseiros "eu te amo", umas duas peças de roupa presente bem do tipo "ai, vc vai ficar tão lindo(a) nela"....você ganha a atenção dos deuses pra criar um 2012 no seu amor sem fim.

Por isso, em um misto de teoria e balela, eu reflito. Minha felicidade não precisa de um dossiê da minha querida. Não. Ok, eu deixo lá uma foto ou duas dela, claro, mas não quero dar margem para a principal vocação das fotos do par que temos, que é eternizada em filmes.

Fotos do par e o princípio da "cereja que azeda"?!

O que? Você nunca percebeu?


Ah.


A foto do par é sempre o alvo da trilha sonora mais "tomara que eu seja eletrocutado no banho, ela(e) me deixou", do choro equacionado em NX ZERO.2+PI elevado ao CPM22 e da montagem "A vida era boa com essa vaca, meu Deus, e agora? Não sei como irei sequer piscar os olhos simultâneamente!".

E os presentes? Gente, eles rendem 5% de alegria e , caso você complete o álbum da simpatia da cereja que azeda, eles tem 100% de eficácia como "encosto sentimental-espiritual".

Nada contra presentes. Eu recentemente presenteei meu par. Eu já disse, acho que foto daquilo que gostamos é muito válido. Mas se o princípio é verdadeiro, por favor, lanço ao mercado a dieta kodak:

Você tira foto daquela torta de limão obscena, faz um álbum com 19 fotos dela no orkut, cria poesias do tipo "Do limão(zinho), veio a torta e o amor do meu coração' para mandar em ppt ( declarações de amor em ppt: Uma discussão que antecede tratados pelo desarmamento nuclear, por favor) e espera. Certeza. Vai azedar que nem o queijo branco daquela dieta que você tentou antes dessa.

Aí você termina com a torta de limão. Ok, comecei com a cereja, mas terminei no limão.

Ótimo. Dizem que azedo é ótimo para emagrecer. E no quesito relacionamento, como diria o cozinheiro do Vinicícius de Moraes: As que pegam pesado que me desculpem, mas em relacionamento, leveza é fundamental.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Inutilidades indispensáveis.

Moro sozinho. É bom dizer isso logo de cara para que possa entender de onde vem tanto universo próprio quando falo de meu apartamento, um apartamento que nem é meu....olha, ele não é muito apartamento e nem é meu. É uma ficção imobiliária, senão pior, um marco existencial nos meus 28 anos de idade que não passa de filosofia de figurinha de chiclete.

Ao morar só, meu apartamento ( vamos usar o termo para sermos práticos...e otimista,TÁ?)...tornou-se uma criança de quatro paredes, meio esburacada, com sérios problemas de sinapse elétrica. Em suma, moro dentro de um imóvel retardado. Se considerarmos que arquitetos idolatram as semelhanças entre o morador e seu imóvel...talvez eu deva ignorar mais a arquitetura ou eles devam me estudar um pouco.

Quando me mudei para lá, me lembro que era um tipo de ser humano em níveis aceitáveis de consumismo, até mesmo porque não sabia o que era ter um salário de 4 dígitos. Minha senha do banco tinha 4 dígitos, mas meu saldo...era bem Nietsche: Além do bem e do mal.

Depois de um tempo, comecei a equipar o apartamento, arranjando sofá, um tapete, pufes, almofadas, luminária...e um juicer. Um juicer parecia ser o robô que todo cara que luta contra a balança gostaria de ter. Ele transformaria frutas em suco e com isso eu achava que no meio do barulho e dos bagaços eu poderia escamotear um pneuzinho aqui e acolá.

Merda de juicer. Mas ele é importante. Ele foi minha primeira inutilidade indispensável. Este tipo de produto tem várias formas, utilidades e preços...mas todos têm algo em comum:

Eles nos mostram como priorizamos as coisas de forma imbecilóide.

Já disse que moro no térreo? Não? Então...imaginem viver no BigBrother, só que a audiência...é mais direta. O juicer...aquele maldito...ele é quem me impediu de impedir essa merda de vizinhança à janela. Era comprá-lo ou instalar cortinas espessas. Juro, às vezes...misturando o sentimento do juicer que não salvou minha dieta e a janela escancarada...sem cortinas...acho que sou uma peça de presunto na vitrine da nova boutique de carnes da Vila Madalena.

Mas também às vezes me sinto em plena transmissão pornô, em "parei-pela-view". O baiano vai ali, anda, para, rodeia e arranja um jeito de se divertir quando estou em meus momentos íntimos...

As inutilidades indispensáveis. O juicer foi a primeira. A segunda foi um aparalho de abdominais que dá choque. É, eu quero me jogar da janela ( mas moro no térreo, lixo)...eu comprei. Eu admito gente. Eu não votei no Lula, eu adivinhei o final de Jogos Mortais 1, mas eu caguei...eu comprei o "choquinho mágico". A cada compra dessas....o cheiro do desespero....o cheiro da burrice...e o cheiro de cookies prontinhos no forno, que eu fiz em homenagem à minha imbecilidade para compras.

O que o querido aprelhinho de abdominais me impediu de comprar? Ah, claro. Ele impediu algo. As inutilidades indispensáveis sempre entram no lugar de algo "chato e necessário".

O aparelhinho de choques ( diga-se de passagem que aquilo NÃO é prático. Se você já tem lá sua pancinha, imagine a tristeza que é lambuzá-la de gel e colocá-la para tomar choques que mais parecem agulhas)...essa porcaria me impediu de comprar um novo aparelho celular. Então continuo assim, gastando horrores para falar com os caras da banda...gritando horrores tentando achar sinal dentro da minha própria casa e....vivendo os horrores em frente ao espelho.

É ali que você pensa..."Brahma eu te amo. Brahma eu te odeio", enquanto encolhe e relaxa a barriga...lixo.


Vou escolher minha terceira inutilidade indispensável. Ando pensando em um aquecedor. Os dias estão quentes...e acho demais poder criar uma película de "planejamento" comprando um aquecedor em um dia quente. É a chance de ignorar o juicer que fez picadinho das minhas cortinas ou do aparelhinho de choques para abdominal que fritou a minha plenitude telefônica.

Ah, e claro: É a chance de começar a pensar no que aquele aquecedorzinho de merda está me levando a não comprar em prol da minha vida consciente, aquela que só aparece quando estou no espelho ou dando tchau da minha sala para a rua que me observa...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

De volta, com os seres encantados

Olá pessoal, eis que depois de 1 ano de jejum em textos corridos ( porque parar de compor música é que não consigo mesmo), cá estou eu de volta. Nossa. Da última vez o português era a língua que eu falava e escrevia sem (muito) medo...agora...só perdendo mesmo o medo de errar.

Bem, não vou escrever um texto sobre o maldito acordo ortográfico da língua portuguesa.
Chega de procurar pelo em ovo. Procurem mesmo é a porra do acento, que eles comeram e não pagaram para ninguém.

O assunto, como o próprio tópico diz é "seres encantados". Acho estranho, mas aos 28 anos qualquer porra encantada só pode ser fruto de alguma substância que dá cadeia, ressaca ou complicações psicológicas. Mas eu lembro que durante uma época da vida eu também acreditava nessa coisa amorosa da "pessoa encantada". As mulheres adoram poder, logo, não se enganem, não é por acaso que o bicho encantado delas é o príncipe. Eu sei que é sacanagem, mas já pararam para pensar na grande metáfora que é o príncipe encantado?

DECUPANDO O PRÍNCIPE ENCANTADO

1) É um cara com poder, que manda em gente pra caralho ( ele é príncipe, porra)

2) Ele não é prepotente, embora possua o poder, não é maluco por ele ( já que ele é príncipe. Se fosse o Rei encantado já ia mandar a donzela se fuder de cara, o cara saberia que a mulherada quer mesmo é a coroa dele rs)

3) O príncipe sempre vem em um cavalo branco (a metáfora aqui é simples. Hoje em dia esse príncipe vem em um puta-carrão....novinho, claro, daí a menção ao branco)

4) Ele é encantado. ( Na boa...homem encantado pra mulher...convenhamos, se vc é homem e já se sentiu encantado, vc sabe de onde vem a fonte da sua "mágica", né?...)


Chega de decupar ( ou melhor, detonar ) o príncipe encantado. Mas é fato que ele tem lá sua utilidade. Ele me faz lembrar de como eu também já sonhei com a donzela encantada. Porque minha gente, convenhamos, se até o maior erro de encarnação feminina sonha com o príncipe encantado ( que tem como missão salvar a donzela, que é uma beleza de mulher)...qualquer homem pode se considerar o possível príncipe encantado de alguma donzela por aí.

E aí é que está. A donzela, sejamos bem justos, aos olhos de um homem também tem que ter os seus encantos. E olha, matar este mito é tão duro quanto abandonar de pedir presente de dia das crianças...é fogo. Mas ao mesmo tempo te dá uma vontade incrível de rir de si mesmo.

A donzela encantada...ela era uma mulher nitidamente indefesa, uma criatura desejada por qualquer um que tenha a sorte de encontrá-la...e ela é rapidamente apaixonada por você justamente porque você tem as qualidades que só uma donzela poderia reconhecer...e...ACORDA.

Acorda. Sério.

DECUPANDO A DONZELA ENCANTADA ( aplicando sinceridade)

1) A donzela é bela. (tradução: A donzela te dá tesão.)
2) Ela está indefesa. ( tradução: Ela não vai enrolar pra ser "salva")
3) É um achado ter encontrado a própria. ( tradução: Meu Deus, nenhum dos meus amigos pegadores catou?! Maravilha...)
4) Ela se apaixona imediatamente e se deixa ser levada. ( Eu sou romântico, mas convenhamos que nesse mito, se tirarmos os frufrús...esse lance de ser levada com certeza não é pra mostrar como o seu BlackBerry tem um sinal maravilhoso no seu quarto, né?)
5) Ela está sozinha. ( O que é perfeito. Mulher quando se junta em mais de 4, nem o Brad Pitt passa pelo 'senado que menstrua".)


Logo...acho que é melhor abandonar por completo esse lance encantado. Acho que o encanto de cada um está justamente nas pequenas brechas que existem em cada ponto de realidade, de dia a dia e de oscilação entre o "eu não vivo sem essa mulher" e o "eu quero me matar com essa mulher". Caso você não tenha paciência para esperar esse tipo de momento aparecer, fure a fila e encontre lá um encanto ou outro com poções mágicas loiras, geladas e de colarinho...mesmo que isso não te permita subir de volta no seu "cavalo branco" na pior das hipóteses, você deixa o resgate para a donzela ( ou o dragão!) rs