quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

É preciso ter habilidade


Certa vez, em uma daquelas em que nos sentimos sortudos demais, ouvi de um recém-conhecido após uma troca de figurinhas e histórias de vida:

–Cara, você tem diferentes talentos. É legal, isso, hein?

Minhas resposta—e ela em si já é o ensejo desse post perdido em um silêncio eterno por aqui—foi novamente sincera:

—Sabe um talento que eu não tenho? Fazer amizades.

É, pelo senso comum, eu não tenho habilidade para fazer amigos. Tenho ampla habilidade para conhecer pessoas, mas torná-las alguém que de fato curta o meu jeito de pensar e viver, nah. Desencana.

  • Sabe quando você pega o seu telefone e liga para qualquer brother para tomar uma cerva? Bem, eu já fui educado pela estatística empírica a parar de fazer isso.
  • Sabe quando você faz aniversário e aparece alguém que você não esperava? Eu ainda estou esperando esse dia.
  • Sabe quando você encontra alguém que não vê há tempos e a pessoa quer marcar uma—e de fato marca. Nem marco mais no meu celular.

Em suma, se você viu “Feitiço do Tempo” com o Bill Murray nos anos 80…às vezes eu me sinto aquele mala maldito que todo dia tenta vender um seguro pro cara.

O problema é que ele é mala porque quer ganhar algo. Eu, nem isso. Como escrevem por aí...#fail. E risos para companhar. rs.

O engraçado ( ou trágico) sobre tudo isso é que, com o passar dos anos, começo a pensar se eu estava errado sobre esse lance de não ter habilidade para fazer amigos.

Após um episódio comum—a mim, claro (rs)—decidi pensar essa coisa a sério. De fato, hoje mesmo, ao sair para jantar no trabalho, me vi em um replay que está nas paradas de sucesso desde os tempos de os primeiros amiguinhos serem feitos no jardim de infância.

Ou, se preferir algo mais “maduro” , algo que remete ao meu lema, muito provavelmente outra herança da minha maldita mania de ser um resmungão otimista:

“ Sou como uma dose daquelas bebidas fortes que todo mundo pede:

Não é para qualquer um engolir.”

A primeira resposta para esse dilema sobre “será que eu sei ou não fazer amigos” surgiu de um toque sábio de um colega da faculdade. Esse pelo menos foi em tom de brincadeira:

“—O André é um daqueles caras que você pergunta como ele está…e o pior é que ele fala mesmo.”

Aí reside o que eu tento ( ou talvez precise) enxergar como efeito colateral da sinceridade. Sinceridade é uma daquelas coisas que as pessoas curtem falar e postar sobre no Facebook com fotinhos de qualquer-coisa-com-efeitos-de-photoshop para dizer que praticam, adoram, admiram e tal… mas na real nunca fazem. Na real, só se sentem culpadas aos montes de não poderem falar pro mundo “meu, por favor só fale o que eu quero ouvir, vai. Se não for pra isso, por favor, pegue o próximo corredor e vá se foder, seu mala filho da puta”

Sinceridade está para as massas como um Ice Tea está para o alcoólatra. Só rola se for uma versão com o que ele gosta.

Praticar sinceridade é como quando uma moça, à fila do supermercado, compra uma revista com a nova dieta da Luciana Gimenez e a coloca orgulhosa no seu carrinho--recheado de donuts e lasanhas congeladas. É balela. Mas tudo bem. Pode ser. Todo mundo faz, então não pega nada.

Então sinceros não fazem amizades? Só as pessoas que sabem ser coquetes, que tem o dom da

“ diplomacia” ou da “negabilidade sorridente” podem ter amiguinhos?

Opa. Aí é que está o pulo do gato—ou do que você pode chamar de mala.

(Se chamou de mala, por favor: aperte a tecla “f” do seu teclado e conte até dez.

Conte quantos f`s apareceram na tela e vá se foder a mesma quantidade. Obrigado. Agora continuemos.)

A boa conduta para fazer amigos só peca por um ASPecto. Ou melhor, ASPas.

Esse tipo de comportamento pode ser amplamente aceito—é fácil fazer uma criança aceitar chocolate, não?—mas não busca realmente amigos.

E não ache que eu, por ser ao máximo sincero ( e até sobre isso sou sincero, não sou uma máquina, logo ,não sou sincero 100% o tempo todo, mas é fato que em 90% das vezes eu sou ;)) sou um “truefriend machine 2000—ligue agora e peça o seu”.

O que rola na verdade é que eu te digo que, enquanto eu tenho aniversários ou eventos com menos pessoas do que você vê no comercial da cerveja do verão, eu pelo menos posso cuspir na cara de muita gente e falar:

Os dois amigos-amigos-e-não-brothers que eu tenho são à prova de balas.

São amigos com teflon. São pra valer. São a porra do fucking Chuck Norris do seu lado. São quem coloca no chinelo qualquer porra de filminho sobre amizade do Pão de Açúcar com o Gilberto Gil falando pra você fazer "ah, é mesmo, que legal"

Logo, como comecei o texto com pessoas me falando coisas que convenhamos…só externam de uma maneira não muito sincera um “ cara, eu odeio o seu jeito”, quero terminar otimista.

Já faz um tempo em que descobri um lugar onde só essa sinceridade “de merda” vira ouro:

Na música. Nela, como em tudo que faço, eu falo como estou, como penso e como acredito nos meus sonhos. Eu falo do que deu certo, do que queria que desse certo e sim, das muitas merdas e cagadas que eu já fiz e já fizeram comigo.

E meu...é engraçado como as pessoas não te conhecem, não sabem se você gastou dez reais ou dez mil para chegar até elas, se você já é ou não famoso…mas elas, sem nenhum estudo específico, há 10.000Km de distância conseguem discernir se você é algo de verdade ou algo feito para te fazer parecer com algo que elas querem encontrar.

Sério. Pensou em fazer algo para que elas acreditem na sua música...pode parar. Para, é sério. Mesmo. MESMO! rs

É nessas horas, quando eu converso com alguém que acabou de conhecer a Bravado—e falo pra caralho com desconhecidos sobre o que eles quiserem conversar, tudo sem muitos rodeios...nessas horas eu penso:

”Diplomacia faz colegas e é isso o que todo mundo faz. Mas aqui não é terra de quem é raso ou de quem faz o que todo mundo faz. Obrigado, Deus. Obrigado! Puta que me pariu, que bom.É tetraaa! É tetraaahhh!”

Arhammm. Ok. Eu melhorei. Retomando para fechar a conta do bar, ok? ;)

O que eu acredito é que, se algum dia você pensar que é preciso habilidade para fazer amigos, coloque as palavras nos seus devidos lugares.

Para fazer contato social superficial é preciso habilidade.

Para fazer amigos, tudo que precisa é a coragem de pagar o preço de ser chutado por 99% do mundo para encontrar o 1% que vai usar os braços não para te dar tapinhas nas costas (odeio), mas te abraçar pela vida afora.