segunda-feira, 29 de outubro de 2007

As 12 casas: Pipipipi...piscianas.

Já estamos na terceira casa. E eu sei lá o que se passa. Começo agora a falar um pouco dos signos mais "problemáticos" comigo. Peixes.

A casa de peixes comigo tem uma história de casos bem-sucedidos específicos. Em geral as damas de peixes me enchem o saco pelo sentimentalismo excessivo e o que eu chamo de "complexo de Felícia" ( Tiny toons..."vou te amar e te abraçar e te apertar").

As exceções já sabem quem são e já me pegaram discutindo sobre como a casa é problemática. Ainda bem que existem ascendentes. Mesmo assim, me assusta o pensamento de alguém com a cólera chorona ao ser de peixes com ascendente em peixes. Mas vamos ao assunto do mesmo jeito.

As qualidades da pisciana aparecem muito na forma de amizade, são pessoas que seguem o princípio do "deixa quieto o que é dos outros...e deixe o meu também". São sonhadoras, mas ao contrário dos meus colegas de sagitário ou as tão faladas aquarianas, reconheço que não têm pressa para realizar seus objetivos. Nunca conheci uma pisciana que fosse "maluca". Elas podem querer ( e querem) passar esta imagem, mas adoram a segurança como uma vertente em suas vidas. Segurança no emprego. Segurança na família. E segurança nos relacionamentos.

Elas sabem cativar "esportivamente', mas em geral me dão sono. Não sei, conheci poucos casos de piscianas que sabem "sacudir" o mundo, mas não digo que são monótonas na área. Elas gostam do método ( de novo?) até mesmo para manter um nível de prazer dado e recebido. Pecam por esperarem cenas maravilhosas, coisas perfeitas...e isso não combina com alguém que infelizmente pode ter o defeito de ser carinhoso ao extremo em um dia e no outro acordar querendo matar o mundo com uma bomba H.

Vivi momentos tensos diante da delicadeza cristalina dos sentimentos de peixes. Minha inconstância é como um daqueles ônibus pau-de-arara transportanto um ovo farbegê. Dá merda.

Estatisticamente percebi que elas se dão muito bem com signos como virgem ou câncer, aquelas criaturas que "se acham foda e acham que todo mundo sabe disso pelo seu olhar 46".

Piscianas , não me entendam mal. Tive casos muito interessantes, mas raros com o signo. Me lembro de uma que era refém da idéia de quebrar o lado "sentimental" que todos insistiam e colocar sobre ela...mesmo que merecido. Era uma porra louca e ...não vou falar mais. Ficou a cena do "ir para cama por indicação"...o que pode ser muito legal no campo hipotético para o ego masculino...mas na real? Dói. É carência embalada com cinta-liga.

Os piscianos...vamos a eles. Tenho poucos amigos do signo. Esse lado meio melindroso me dá no saco. Acham que suas escolhas são as melhores e em geral odeiam minha forma "assertiva" de falar " legal" ou "que merda". Creio que , aos olhos dos piscianos, pareço ser uma espécie de ogro com dois diplomas, um milagre ou desastre da era moderna.

Meus amigos piscianos, lamento. Não dá para ter afinidade com todo mundo, né? Os que conheci não são bichinhas ( como adoram pintar o homem do signo), mas realmente têm uma natureza que inspira carreiras como "comentarista de filmes" ou "arquiteto". Devem encontrar grande respaldo na cultura francesa, como lugar de machos que já usaram maquiagem de casamento na era vitoriana.

Por fim, recomendo a pisciana como uma dama para acompanhá-lo, desde que nada de errado ocorra. Se tiveres humor variável, saiba que é uma relação com prazo de validade. Se você é grosso, problema. Mesmo assim, não se engane. O "bananismo" ( já leu este texto?) é algo que elas aceitam com o tempo...mas desgasta , até que uma hora você descobrirá que esta pacífica lady quer mais é se sentir mulher depois de estar segura de suas intenções.

Que venham os tomates me xingando...rs

sábado, 27 de outubro de 2007

As 12 casas: Ah, áries...

Seguindo minha série temática sobre signos, vou para aqueles que aniversariam depois de aquário, áries.

A minha primeira referência deste signo é meu irmão mais novo, que conviveu comigo desde os dias em que eu era um irmãozinho dois anos mais velho muito injusto. Não me perguntem, aos sete anos meu hobby era bater no braço dele incessantemente. Ele cresceu, ficou forte e passou.

São pessoas que sempre se mostraram resistentes a tudo e a todos, esses tais de arianos. Como meu viés é sempre feminino ( para tornar tudo mais interessante), vou colocar como se dá o meu contato com a casa dos teimosos mais simpáticos que conheço.

A única exceção negativa sobre este signo foi uma interesseira que conheci em Santos, logo...deixarei esta criatura de lado, pois não sei o que houve com ela. Só tive o prazer de ver a sua falta de graça ao me encontrar um dia de novo, acho que com vergonha de quem tentava ser algo que não era. Infelizmente, na idade jovem a ariana é muito influenciável pelas amigas que pegam a mão do jeito de "sugerir" rumos para os outros. Graças a Deus isso some quase que por completo a partir dos 25 anos. Não sou astrólogo, só um cara supersticioso. E assim acho que acerto mais para quem importa ( eu).

Agora indo para a página 2...(muito melhor)

As mulheres de áries têm uma história de amor e ignorância em relação ao meu jeito de ser. Faço piada com o signo lembrando com o mote "se você MANDAR respirar até a hora seguinte eles se matam por asfixia voluntária"...a mulher de áries gosta de gostar porque quer. Esqueçam o lance da conquista, fãs das mulheres de áries. Elas são conquistadas no dia-a-dia, como uma boa fruta deve ser cultivada sem muitas perguntas sobre quando dará frutos.

Isto funciona para a amizade e o amor. São mulheres de gênio simpático, acho que muito pacientes, pois em geral gargalham à larga com meu bom-humor de 9,90. Espertas, raramente me peguei explicando duas vezes a alguma ariana alguma piada ou indireta. Suas habilidades
"esportistas" são de fato um tanto imperativas, mesmo quando exercidas de forma amável, e o carinho é muito importante, o que balanceia a sua praticidade avessa aos nhé-nhé-nhés.

Preparam momentos mais que picantes com a naturalidade de quem é dona da situação, mas nunca me senti menos do que convidade de honra da cama que dividi com alguma ariana.

Gostam dos homens que falam a real, a sinceridade é quase tão valorizada por elas quanto pelas escorpianas, e o rancor ( graças à Deus) é um botão quase nunca apertado. São majestosas ouvindo o "sim" e o "não", mesmo que a segunda opção já tenha me dado a sensação de ser um "Brutus" da era moderna. Ledo engano.

A paciência de áries comigo é um tanto curta quando cometo alguma daquelas mancadas tão típicas, como esquecer datas ou ocasiões, mas ao perceberem que o lance não é na maldade, conseguem seguir em frente. Os homens, amigos, irmão e meu chefe também são assim. São de uma elasticidade sobre-humana quando o assunto é perdão, sempre com a regra de ouro da inspeção sobre "será que é verdade".

O que me atrai nestas mulheres é que têm um dom para manjar as pessoas. Meu irmão também é assim. Podem ser extremamente céticas, mas adoram suas capacidades "precognitvas" para "cheirar" o bem ou o mal. Quase nunca se enganam. Digo isso porque vi como foram espertas as mulheres que me conheceram em fases "evil" e também como mantenho ao meu lado uma convivência que encontra segurança na minha forma de proceder mais transparente.

Não deixaria de falar do ciúmes. Ah, não. Porque ariana é ciumenta sim, minha gente. O ciúmes para elas é assunto feio aos seus próprios olhos, por isso dão cabo de investigações e desconfianças por si mesmas. Isso irrita, pode dar um ar de "perseguição", mas pode cessar logo que toda CPI chega ao fim.

Mas eu sempre me dei bem com este signo, é engraçado. Quando brigo com eles, as coisas em geral acontecem pela teimosia que nega a veemência com que apresento fatos que não os agradam, até mesmo porque , embora eu concorde em sonhar acordado, pelo menos admito, ao passo que arianos chamam de "planejamento"...mas é sonho mesmo.

Para torcer um braço de áries é só dar tempo ao tempo. Dê seu recado ( se for o certo) e ele tomará o rumo que você apontou...mas porque ele(a) quer! rs ( claro...)

Diria que são pessoas para se manter por perto para tudo e todos. Se fossem um objeto, com certeza seriam uma daquelas facas militares para sobrevivência na selva, com bússola, tesourinha, lanterna e qualquer traquitana que você precise. A força de quem gosta da mão na massa é admirável para alguém tão 8-80 como eu. Eles conseguem atravessar momentos de crise fazendo piada, e as mulherem então, nem se fala. São atraentes pela forma como me envolvem com o carinho de quem quer cuidar mas não quer dependência. São quem carrega uma boa fama comigo de mulheres que gostam de mim sem alterações de conduta para conquistas. É para quem gosta da possibilidade de encontrar um par perfeito, que só vai te abandonar se você se alterar falsamente. Mesmo que seja para começar a abrir a porta do carro na hora desta dama entrar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

12 casas do supersticioso: As águas de aquário

Quem bem me conhece sabe que sou um supersticioso de carteirinha. Pagando a minha língua no crediário, me tornei em parte o que minha mãe é ( mas ainda não idolatro 16 divindades diferentes).

A minha maior superstição foi inaugurada por algum imbecil que um dia me perguntou qual era o meu signo ( sagitário) e me afirmou , com toda a certeza do mundo: "Ah, você deve ser dar muito bem com gêmeos. Tem amigos de gêmeos, não?"

Eu ri, saí andando e depois descobri, estarrecido, que tinha geminianos como 80% das minhas amizades na época. Virei supersticioso ali, também agregando o valor aos signos em outras áreas, dentre elas o segundo assunto que mais me persegue dia e noite: a mulher.


Mas o texto é sobre você, que é de AQUÁRIO ( rádio AM!?!?).

Este é um signo que apareceu sempre de forma charmosa, com a graça de um daqueles gatos egípcios. As aquarianas, ao contrário dos companheiros do signo, são seres que convidam tudo e todos a se deliciarem com um passeio sobre suas imagens. São criaturas belas, no geral. Fato. Nunca conheci uma aquariana-- até mesmo as mais desprovidas de adjetivos diretos--que não soubessem acertar sua fagulha em um homem.

Mas não é só isso. Minha relação com este signo é pontuada pelos debates e eloquência, sendo que em geral tento manter a linha de fogo rebatendo as minhas fascinantes argumentadoras olímpicas. Sua capacidade de manter uma conversa é incrível, e isso é sentido justamente quando elas se tornam seres silenciosos, que da mesma forma que matam pela sutileza para o lado da atração, matam pelo silêncio. Me identifico e conheço os meandros desta conduta, talvez daí me irritar tanto quando sou vítima deste artifício.

São damas, e sabem mostrar que ciúmes pode ser algo muito...excitante se manifestado com classe. Uma lição para outros signos com fraqueza nesta área. Graças ao bom Deus, sempre me vi apoiado por elas em meus projetos, sejam eles artísticos ou inúteis, pois todas as aquarianas que conheci tem sonhos estratosféricos (;). Não que isso as impeça de criticá-lo.

Para não falar só de mulheres, deixo um parágrafo escondido aqui sobre os homens do signo, que são bon-vivants e pessoas que podem ser muito fúteis quando querem, vivendo sua faceta de conteúdo de forma muito reservada. Daí talvez eu encarar os poucos homens de aquário amigos que tenho como pessoas preocupadas com roupas, estilo e festas como ferramenta de auto-afirmação. Ironia é que conferi isso com amigos em Santos e São Paulo, o que cria mais uma teoria zilariana, coisa que eles adorariam argumentar e me ridicularizar por tal ato.

Voltanto às mulheres...

Em outras áreas, digamos assim...esportistas(rs)...são um ponto fraco para mim. As damas de aquário--como chamo quando conheço uma--são um perigo para a minha imaginação, tanto por toparem todas as maluquices quanto por saberem exercer o ato em si com uma propriedade toda especial. Não são as imperatrizes da cama no zodíaco, como tanto falam de escorpião, mas a forma como conseguem ser ativas e provocantes da primeira à última gota de suor fazem valer a pena tudo que se ouve contrário.

A escolha de argumentos verbalizada muitas vezes aparece na forma como se vestem. Sabem argumentar a convidar qualquer um a manter distância ou se render aos seus caprichos, daí um outro receio que às vezes aparece, pois sua capacidade de conquista me traz mesmo é inveja.

Mas nem tudo é lindo em minha relação com as águas de aquário, que parecem abrir magistralmente os meus verões...(risos)

Sempre tive de tomar cuidado com a minha impulsividade. Por ser do tipo que em geral pensa-não-pensa-mas-faz, não só deixo estes seres capciosos cravarem suas lâminas quando querem ferir, mas pego e puxo contra o corpo a ausência que sabem proporcionar, me tornando temporariamente um orgulhoso avesso à casa de quem aniversaria no começo do ano usando calcinhas que vão do bom-humor à boa e viciante sacanagem rodriguiana.

Assim sendo, acho que aquário sempre será uma constante em minha vida. São elas as matronas de histórias que marcam minha memória intelectual, sentimental e sexual com muita força, pois podem ter muitos defeitos, mas uma coisa elas são, inegavelmente:

Marcantes. Um drink doce, que de alguma forma consegue fazê-lo acreditar que 2 gotas de cianureto dão um sabor mais do que especial.


Até o próximo signo.

A catraca está aberta.

Percebi que tinha me tornado em pouco tempo um mendigo por comentários. E o pior de tudo:
comentários sobre textos que não falam de baladas, não provocam alguém com xingamentos ou contam peripécias sexuais ligadas ao surfe.

Agora eu dou paz aos meus queridos amigos. Gente, esqueçam o comentário. Me liguem. Riam ou chorem sozinhos. Ou só apertem o "X", no canto superior direito.

A mudança com o contador é pequena, mas é um sofá para aqueles que me aconselhavam de que eu precisava de alguma forma mostrar a frequência no blog. Pronto. Não chegarei ao ponto de fazer apresentações em powerpoint com estudos de fluxo, porque fluxo é assunto amarelo e vermelho ( CETs e mulheres, respectivamente).


E vamos ao texto de hoje.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Escrita offline

Sabe quando um escritor fala sobre como está fudido?

Ele não está fudido/ocupado o suficiente. Eu estou.

Minha crônica:


Gente, fudeu.

Obrigado.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A vingança em algodão.

Uma coisa que me incomoda diariamente é como se tornou difícil a tarefa de me vestir. Nunca fui muito incomodado com isso, meus amigos que o digam, sabendo que muitas vezes repito implacavelmente uma peça, ou como chamo de "cachorro" o meu jeans, que é usado até a exaustão têxtil.

Mas as roupas são primas da balança, amigos. Elas são objetos cruéis quando o assunto é ganho ou perda de peso. E as minhas, já andam brigadas, ameaçando se tornar ex-namoradas da forma que possuo.

Avaliei recentemente o meu peso na balança. São 15kg acima da estratosfera. Mas isso se multiplica por dez quando eu vejo quantas peças me são proibidas. A minha urgência nesta área nasceu de uma camiseta verde que uma bela companhia escolheu comigo, um coringão que aceitou até 10 kg acima do desejado, mas agora demonstrou que eu fui muito longe. Me senti tentado a dizer : "Até tú, Brutus?"

É hora de reagrupar, ou melhor: matar os soldados adiposos extras. Como uma empresa diz ser o desejável, é hora de "enxugar'. Caso contrário, corro o risco de um motim de peças de algodão, linho e poliéster, que deixarão as suas diferenças tribais para me deixarem ou pior, me matarem à golpes de cabide, finalizando tudo em uma forca improvisada com uma arara e meias amarradas.

Um ponto positivo: Os casacos ainda se mostram firmes e fortes. Só preciso de uma aliança com os shorts e camisetas surradas para malhar, aí sim, minha vitória poderá se concretizar nesta guerra P/M/G.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Contos de Cristian- Ficção

São Paulo, próximo ao metrô República.


Dona Regina se encolheu e abriu mão de pegar aquele elevador. O prédio tinha apenas seis andares, mas o elevador no pequeno prédio no centro paulistano era disputado, mesmo com o péssimo hábito de parar entre andares. A senhora, ex-síndica, não se lembrou disso quando o rapaz do apartamento 52 chegou em estado deplorável. Dava dó. Até mesmo comparado aos deploráveis que ali viviam.

Cristian não olhou para a velhota no elevador. As costelas doíam, e a bolsa esportiva que carregava disputava com sua mente para ver quem guardava mais problemas. A camisa social roubada escondeu o colete e o que deveria ser um coldre com munição. Melhor assim. Um prédio pode ser decadente, mas a violência explícita é assunto em qualquer lugar. Ele ainda quer morar ali. Quarto andar. O elevador pára.

Embora Cristian tenha apenas vinte e três anos, ele ganhou a chamada “coceira”. Ele sente o perigo como um bom cão de guarda, fruto dos seus tempos como pichador adolescente em Brasília. Bons tempos, quando temia apenas uns sopapos na orelha. Agora a coisa é mais séria.

Antes que a porta abrisse, ele pega da mala uma fita adesiva e prende sua pistola Glock no painel do elevador. Casualmente ele se encosta com a mão pronta para um saque no elevador, que graças à miséria não tem espelho para denunciar sua garantia de vida.

Lentamente, a porta se abre e revela alguém que não merece uma bala, mas todas as noites despreocupadas de prazer que Cristian não tem sequer o direito de imaginar: Lila.

--Oi—ela cumprimenta, tentando parecer ser só uma habitante do prédio.
--Hum—demais para a elasticidade de seu humor, por mais que quisesse, a hora não era apropriada.

Ela entra e se vira, sem perceber a mão cobrindo boa parte do painel.

--Você aperta o sexto pra mim?
--Claro—inacreditável, ela não dar bola para a posição desajeitada em que ele se encontra.

O caminho do elevador é curto, mas em 1973, quando fabricaram esta carroça de estrada vertical, tempo era um problema diferente. A viagem é vagarosa.

--Pode pegar de volta—ela revela, com um sorriso malicioso e olhos ternos, fixos no indicador de andares.
Cristian pára e pensa. Ela poderia estar em pânico. Foi uma baita cagada fazer essa manobra. Mas ele não podia se dar ao luxo de morrer sem uma arma na mão. Agora ele sente um ar de culpa e ao mesmo tempo de cumplicidade com a menina de 19 anos do andar abaixo ao dele.
--É, eu...—ridículo esconder a tensão do momento. Ela está no elevador com um idiota que pregou uma arma no painel...
--Olha, se eu fosse você guardava a Glock. O pessoal do Tinho já foi embora. Deu para ouvir os caras assustados falando ao telefone.
Cristian se impressiona como a menina sabe de tudo. Deveria ficar bravo por isso, mas se sentiu ainda mais próximo da menina. Desconversa disfarçando a alegria de saber que escapou por hoje:
--Como é que você sabe o que é um Glock?
Ela continua a olhar o elevador, que quase centímetro a centímetro pára, um andar acima apenas:
--Eu jogo CS.
--Sério. Olha, continua só no CS mesmo, essa vida é f...complicada.
--Eu sei. Meu irmão já teve a sua função, sabia?
--Como assim, minha função?
--Ele já foi “pescador profissional”—fala com a mesma calma de quem fala de uma profissão comum, como advogado ou médico.
A porta se abre. Aleluia. A tensão o mataria antes da dor nas costelas. Mesmo assim ele irrompe em meio ao silêncio de quem se fez ignorante ao que ela falava:
--E o que houve com ele? Cansou de trabalhar sozinho?—falou mais rápido do que imaginou a pergunta.
--Não. Ele morreu. Mas não estava sozinho. Você também não está.—finalmente ela o olhou e mostrou que os 19 anos eram quase como uma fachada para uma pessoa bem endurecida. A pele morena poderia passar a imagem de uma carioca morando em “sampa” que pouco faz da vida, mas ficou nítido que ela não faria nada no sexto andar. Ela só queria a pequena conversa, que de casual não tinha nada.
Agora era hora de voltar ao 52 e rezar para que o Beto estivesse livre hoje para praticar um pouco de “medicina antecipada”. As costelas quase gritam cada número do telefone do estudante da USP, e agora é só torcer para que ele esteja de pé.


São 2:30 da manhã de sábado, o nome dele é Cristian e falta muita coisa para ele poder viver sua vida.
(continua? post com "sim" ou "não")

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Chefes

Antes de tudo havia o pai. E a mãe. E Deus disse que tudo era lindo. Se não era, aguardasse até o natal. Se não era, aguardasse sua madrinha ( a minha era mão-de-vaca para presentes). Se não era, espere. Sempre há o dinheiro do lanche.

Bem, eu não fui econômico com o lanche. Mas fui muito querido. Combinação que tornou minha infância gorda e bem-servida de brinquedos.

Mas aí Deus diz: crescerás.

Você começa a entender que largar os brinquedos é comprar problemas, até mesmo para conseguir se divertir. Nascem as primeiras traições, dos amigos. Depois, das primeiras mulheres, e você entende que traição não é algo que se limita ao ato de beijar ou fazer sexo com outra pessoa.

Problemas? Opa, se você é desocupado, o exército tem um lugar para você. Desse eu escapei.

Só que Deus enviou o arauto da destruição. Não, não é a sogra. Esta, meu caro, você demite quando assinar o bilhete azul do casamento. É a instituição do chefe.

Logo que pensei em escrever este texto lembrei daquele cretino no Fantástico que dá dicas sobre o mercado de trabalho. Ele começou bem-intencionado, mas hoje dá para ver que é um quadro da Glorinha Kalil de terno e com os modismos e "diquinhas" abobalhadas que todos querem ver depois de se empanturrarem de frango assado, pizza ou macarronada no domingo.


Foda-se o idiota. Ninguém nunca pensou que aquele cretino fica desempregado se todos pararem de assisti-lo? Seria irônico patrocinar isso ao "guru do rh".

O chefe. A criatura que Deus enviou com poderes de salário e imunidade chiliquenta.

Meu primeiro chilique foi na Procuradoria. Minha então chefe, teve uma síncope e me humilhou gritando coisas do tipo " até alguém do primário consegue isso". Senti a inveja do porteiro subindo pela escada que dava até a sala.

Ali eu entendi como todo mundo tem um lado místico e circense. Nascemos para engolir sapos.
Olha, até aí, pouco nos diferimos de quem engole papelotes de cocaína. A diferença é que eles são examinados por pastores alemães, e não chefes. Ou seja: criaturas muito mais educadas e cientes de sua posição na escala evolutiva.

Quem tem chefe sabe o que é ver que seu trabalho está feito, tudo está certo e ...ainda assim...ter de fingir "ser super-produtivo". O chefe é o homem que manda relatórios. O chefe atende telefone com cara de George Clooney. E o chefe também adora flertar e fazer burrices para mostrar como você é idiota de não ver que ele pode fazer merda...ao passo que você fará merda, mesmo que não faça.

Já tive chefe "espertalhão", obra da Disney-corporativa. Um tipo de chefe que espera na fila de roteiros para filmes da Pixar. Não percam, nos cinemas. Ele ri , e você chora. É mais ou menos assim.

Deste eu me despedi, com uma longa gargalhada. Acho que o Pateta faria isso, na minha situação.

Passei um tempo de minha vida sem chefe. E cheguei à conclusão que eles são como mulheres. Ruim sem eles....você entendeu.

Hoje eu tenho um chefe do tipo Jack&Hyde. Diversão garantida. Ele começa o dia com um smile e passa das 11:00 às 15:00 mostrando como Lúcifer pode ter um Macintosh.

Não sei bem ao certo o que faz os chefes serem assim. Os chefes têm preocupações, até aí, minha labrador também deve ter. Ela sempre fica sem água quando bebe estabanada.

Minha teoria é que para ser chefe você precisa colocar um pouco o espírito do "menino da bola". Você tem de sentir aquela liberdade de cagar com a janela escancarada. E ainda cobrar aplausos da vizinha de 70 anos em frente.

Um dia acho que muitos serão chefes. E aí é hora de pensar em dobrar o número de cuecas. É hora de começar a ler sobre TPM, porque chefe pode dar piti e todos abaixam a cabeça, como se ele estivesse recitando as memórias póstumas de Brás Cubas. Porque chefe pode cuspir na cara e pedir abraço. Pena que labradores não trabalhem comigo. Eles não se molhariam muito na hora do cuspe.

Chefe é um ser humano que pode trocar economia cerebral pela capacidade de pagar, admitir e despedir. É um ser grandioso, por isso que sempre tem gente pendurada nele. E é um ser do caralho mesmo, porque volta e meia alguém na empresa tem a cara de quem foi comido e não gostou.

Não me entenda mal, leitor(a). Eu hoje em dia adoro meu chefe. Porque ele admite se possuído por algo que nenhum padre armado de crucifixos vai exorcizar. Ele pelo menos mostra que sente o cheiro das cagadas que comete. E isso o torna humano, quase.

Porque lembre-se: Seu salário depende dele. E ninguém que decide se você come ou não, se você dorme ou não, se você pode ter esperança ou não, é humano.

É chefe. Agora feche esta janela e vá fazer aquilo que alguém te disse...=D

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

"Não-comprido, nem muito longo"

Me disseram que uma boa idéia para que outras pessoas me conheçam e se tornem fãs dos textos é redigir coisas mais curtas.

Vamos lá:



1) Você bebe? Ótimo, já é meio caminho andado.
Sou uma pessoa que, ou você "vira" ou você engasga.

2) Blog para mim não é agenda. Foda-se se eu dormi, comi, fodi ou bebi. Se eu quisesse um diário comprava um livrinho da Hello Kitty. Isto não vai acontecer.

3) Seja bem-vindo. Eu sou humano e admito: odeio emos. Sou mais humano e admito: odeio autismo virtual, com expressões 'linduxas".

4) Eu....melhor parar. Meu assistente de marketing já diria que me alonguei demais por aqui.

fui.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O salto


Fique de pé.

É o primeiro passo. Parece simples, mas ficar de pé é uma expressão muito ampla. Engrandeça tudo que você é até chegar ao limite da verdade. Não exceda o limite. Um bom salto depende de cálculo, seja você bom ou não com os números.

Na vida damos vários saltos ( ou não). É preciso saltar, caso contrário, a repescagem será a sua rotina. E os prêmios maiores só chegam às mãos trêmulas de quem saltou. Mãos calmas e condescendentes não saem do chão. Escolha: segurança ou possibilidades?

Ficar de pé é dar um salto, e este é dado bem cedo. Aprender a nadar, é um salto ( na água).

O primeiro beijo, meus caros, é um salto dado para a frente, que esperamos ser realizado com maestria. Mas não tem problema, este é um salto para se praticar a vida inteira. ;)

As meninas saltam também. Além de tudo, precisam saltar mais alto, daí os mules e tamanquinhos da vida. Sofrem com os acrobatas machistas, daí é preciso saltar alto o suficiente para cravar os calcanhares neste tipo de ego-zepelin.

Depois de um tempo você ganha liberdade--sai do colégio. É o salto mais comemorado para alguns. É hora de começar a vida real, onde o salto em geral é do tipo mortal duplo e só podemos cair 'cravados" ou nos machucarmos.

Hoje eu vivo o salto do trabalho. Vivo o salto de quem quer começar a saltar sem a rede de segurança de meu pai, que já viu circos demais neste sentido. Meu pai conseguiu sucesso relativo, mas admite ter saltado pouco. Devem ser as pernas em arco, somadas ao caráter tradicionalista.

Tenho saltos que pratico e só ensaio. Mas agora preciso do salto do trabalho. E este dá medo.
Muitos outros saltadores de minha geração já estão fazendo turnês de sucesso, e estou concorrendo com saltadores mais novos. Não os subestime: Muitos sabem a flexibilidade de paciência que eles têm e eu já tenho enferrujada, como articulações que já sinalizam não serem "zero km".

O salto do trabalho é complicado. Muitas vezes somos exímios em um tipo de salto e tudo que o mestre de cerimônias da ocasião quer é só um "salte batendo palmas'. O inverso é menos frustrante. É bom ser cogitado para saltar de forma olímpica enquanto ainda nos alongamos na academia.

Agora me vejo na minha primeira plataforma. É mais ou menos como me senti na primeira vez em que saltei para cima de um palco e cantei. Só que não dá para fechar os olhos e esperar um microfone falar tudo que eu diminuí com a tensão. Agora é tudo ou nada.

Menos de 48 passos ou horas...

E eu te digo uma coisa:

Estou de pé, amigos. Minhas mãos suam. Mas descobri um fator competitivo...

O otimismo e a confiança, neste tipo de salto, são extremamente AERODINÂMICOS.


Rufem os tambores. Pipocas e refrescos com o rapaz na arquibancada, pessoal.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Recapitulando...(André Zilar- bônus-fevereiro 2007)

Recapitulando...(André Zilar- bônus-fevereiro 2007)

Provavelmente este é o texto mais egoísta que já fiz. Grandes chances de eu tontear quem lê, ele praticamente é meu cofre em todos os caracteres como senha. Só quem sabe muito sobre mim irá entender.Eu não admito. Eu não aprendo. Sou o mesmo. É o inferno de adorar os saltos dessa vida. Acho que minha primeira paixão foi a gravidade, a segunda o chão. “Me sirva um tombo, sem gelo”.

Odeio chineses, desejos e provérbios. Damm! Não ganho um salário, acho que parcelarei a minha boca. Pouco provável, mas tentarei pagá-la pouco a pouco. Alguém me dê um crediário de promessas.Napoleão estava certo sobre as amizades. Pior ainda, aquele que colocou os sentimentos extremos para passearem sadisticamente noite afora. É preciso dormir, mesmo que a carne se divida em dois: um “Z” para cada lado, assim tudo descansa junto.

Lascívia é a escravidão da carne sobre a mente, estimulada pela alma que ri dos planos que fazemos para a vida. Já me vi como um fusquinha de alma, mera condução pra um destino certo, como o passageiro de ônibus que não faz idéia do percurso da linha que pegou.

As palavras banais das poesias são banais e mal-faladas porque todos as admiramos. É como a toalha de banho ou os talheres, que quase todos têm e quase ninguém dá valor. As cartas são idiotas mesmo, Fernando-humano. Mas que elas são reais em sua idiotice são.Superstições são muros de papelão que carregamos para nos proteger do mundo exterior. Elas funcionam muito bem se não colocadas à prova. Tenho muitas que são derrubadas à distância, é fato.O passado é uma coisa fascinante. Pior do que cliente mal-atendido, tende a reclamar o que nós pensamos no último segundo como uma dívida sem quitação.

Espero um dia voltar à minha forma silenciosa, escamosa, fria e preocupada em apenas estar em seu elemento. Enquanto não vivo na água, continuo assim, fogaréu ao vento.

Recapitulando, é preciso admitir que tenho medo de fazer nexo. Quando fazemos sentido, simplesmente somos desprotegidos do que queremos dizer para sermos acorrentados ao que as pessoas querem entender.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O comercial da vida


Depois de muito tempo, consegui me pegar um domingo a ver TV, acariciar minha cachorrinha enquanto consumia débilmente carboidratos familiares. O filho do meio retornou para apreciar a pizza de seu pai. Que bom.

Peguei um comercial que me chamou a atenção: Ford Fusion. Como sou redator e me enveredo há um ano por esta estrada de linhas editáveis do word, prestei atenção ao conceito da campanha: você fez por merecer.

Claro, a frase é do caralho para um carro que não custa nem de perto o que os "milzinhos" custam. Achei interessante cruzar aquele conceito com a informação que tinha sobre o carro, que foi concebido no México. Um país que confirma a ironia repetida em nosso país.

Será mesmo que quem faz por merecer recebe? Claro que não.

Na mesma viagem, após dois pedaços de carinho culinário paterno, pensei:

E se alguém tivesse de vender a vida. Isso mesmo, a vida. Imagine pessoas sendo prospectadas para encarnar na Terra. Está aí um trabalho complicado.

O primeiro problema seria vender algo que não tem resultados garantidos. Acho que o resolveríamos com as idéias de propaganda para operadoras de telefonia--todas são uma merda e você sabe que compra algo que PODE dar mais ou menos certo.

Depois disso, teríamos de convencer nossos consumidores em potencial a adquirir um bem que tem duração ( até então) indeterminada. Alguns pagariam para encarnar e poderiam rodar logo no primeiro mês. ( quantos bebês morrem?)
Para resolver algo assim, só um belo comercial da FIAT. (risos) Quem compra pode se ver enputecido com o novo bem em menos de 1 mês, não?

Ok. Eles estão quase convencidos a descer das nuvens ou campos verdejantes ( como a Globo costumeiramente retrata o céu) e se mandar.

Mas tem outro problema. Putz. Mais um: Depois de concordar, ninguém sabe como e quando vai chegar nessa tal de vida. Destino incerto? Por favor senhor, entre no nosso site www.voegol.com.br ou ligue no 0800. Não é uma solução, mas se for o caso podemos enrolá-los até alguém dizer que tudo anda travado por culpa de São Pedro, que não deixa ninguém subir ou descer.

Está aí um case de sucesso. Mas como podemos garantir que nossos consumidores ficarão satisfeitos com a vida? Ela não tem hora pra começar, nem para terminar e muito menos se sabe em que condições você irá iniciar sua jornada. Aliás, como é que se explica que cada um terá um resultado aleatório?
Como eles podem acreditar em algum tipo de justiça neste critério?

Hum...se o sexo ou esporte fossem permitidos,poderíamos colocar um belo comercial de cerveja ou anunciar um jogaço do campeonato inter-santos. Mas não rola.

Bem, eis que omitimos isso com um RP ( Judas?) e aí começou o embarque.
De repente, alguém vai e reclama, na última hora. Até que ele se encontra com uma galera que já viveu e está subindo de volta. O fulano decide se sentar em uma nuvem e mandou descer três copos de água benta, sem gelo.

Perguntou :

-- Meu, eu acho que é uma puta roubada. Mas todo mundo está abraçando esta idéia...vocês que já usaram e abusaram da vida....ela foi boa?

Alguns disseram que sim. Outros rebateram peremptoriamente atestando favorecimento inicial. Até que o fulano indaga:

Mas se tudo é uma zona e nós temos que viver, devemos recorrer ao responsável deste produto, não?

A resposta foi sábia:

-- Vou te dizer uma coisa que vale pra você agora, aqui, no céu e lá embaixo:
Não dá pra fugir, amigão. Tá na mão de Deus.
...


Opa! A pizza acabou. Até a próxima viagem!


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Da cama ao monitor.

Sete e quinze. Não. Sete e quarenta e cinco. Mais cinco minutos. Porra de despertador digital. Destruí-lo é acabar com minha agenda telefônica. Por isso, sou refém deste arauto sonoro da Sony-ericsson. Foda-se.

Oito e vinte e dois. Ok, melhor levantar. Vou tirar os pés. Até aviões se preparam com calma para decolar ou aterrisar. Jamais saí mais de 10 cm do chão, mas vou levar a sério a comparação.

Oito e quarenta. Levante-se. Ninguém vai vê-lo na multidão. Descarte o banho. Descarte a escova de dentes, sua prima pobre o aguarda no destino para uma escovação tardia.

Elevador. Porteiro. "Opa"-"E aí"- conversei com ele, o suficiente. O rio da Dona Veridiana está bom. Só 3 esbarrões. Endureço o braço. O mau-humor vira uma ombrada em um nordestino. Nada contra, mas a esta hora quero que uma bomba H caia em sua terra seca e fétida. Me desculpe, sou humano.

Metrô. Corra. Sentido Barra Funda. As pessoas estão para sair, só um lance de escadas. Ok. Consegui. Abro meu amigão. César vai contar como a vida pode ser grandiosa com sangue. O suor moderno não dá nem de longe um relance do que leio.

Estação Presidente Altino. Todos descem. Um baiano entra antes de todos saírem. A visão de 14 tiros naquela remela social me vêm à mente. Ótimo, não tenho uma arma. Minha vida segue, a morte dele também, lenta e miseravelmente remunerada.

Aguardar o trem. São nove e alguma coisa. Meu atraso começa dentro do trem. Um agricultor bêbado pergunta sobre seu corte de cabelo aos pobres coitados que cruzaram seu olhar com o dele, trincado como o vidro dos vagões mais desafortunados.

Jurubatuba. Um trem mais digno. Música clássica desligada hoje. Ar condicionado também. O tempo paulistano é jazz tocado em graus centígrados. O casaco e a camiseta se sentem inúteis. Mas o fedor está lá. Sempre há uma pessoa que pulou o banho, como eu, mas há 3 dias. Assim parece ser.

Uma bela mulher no vagão. Não bela, factível. Pés bonitos. Eu olho, ela se encolhe. Não, amiga, não terei uma ereção matinal no trem. Mas seus pés são bonitos, não muito...mas é nisso que me fixarei, caso contrário restará o maldito do bêbado para me divertir.

Pilhas. Rádio, testado na hora, pessoal. "Tráid", chiclete macio. O serviço de bordo de quem se fode começa. Fudidos servindo fudidos.

O cego da vez entra. Ele martela a miséria e sua posição escrota com a bengala. A legenda é clara, até mesmo para quem pode ver e não quer: "Pam! Quero dinheiro! Pam! PAm! Me dá alguma coisa, seu bando de malditos! PAm! Sim, eu faço isso há 3 anos e me acomodei por aqui. Pam! Não, não me importo!" O truque deficiente-circense rende 3 moedas com alguém que entrou para a turma do trem espanhol e ainda não sabia como um cego ganha mais que eu e metade do trem, só batendo a porra da bengala.

Estação Vila Olímpia. Há esperança? Não sei. Mas a escada rolante me coloca um degrau abaixo de uma bela morena. Seu rosto é desconhecido. Sorvo meu dízimo. Um cheiro doce, perfume matinal. Incrível. Cotoveladas, aperto, fedor, pilhas, rádio e bengalas capitalistas me levam a três inspiradas. Ótimo. O dia pode acabar bem, um desconhecido, como essa mulher que para mim parece ser útil apenas para que meu nariz lembre de que coabita o mesmo corpo de partes mais utilizadas para me dar prazer.

Um cigarro. Antepenúltimo. Está quente e frio. Andar. Calçadas arrebentadas se empertigam para receber os sapatos sociais e escarpins de gente que no geral ganha menos do que parece.

O caminho até a agência é invisível. Pensei em algo. Mas acho que não era relevante. Os dois que chegaram antes de mim, no horário, fumam.

Eu subo. E a porta está trancada. É, não deveria ter saído tão cedo da...escada rolante, é claro.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Guarda-chuva

Guarda-chuva( André Zilar)

Outro dia desses, nos meus momentos de introspecção, andando pela Paulista--como tenho feito nestes últimos meses, percebi que as pessoas esbarram demais. E estes sacolejões vão minando o pouco bom-humor que habita a alma de cada um que acorda entre as 6:00 e 7:00. Daí em diante virei um estudioso no assunto "sacolejões & esbarrões". Enfim, me auto-denominei esbarradologista.

Assim sendo, encontrei um sentido na frequência e intensidade da pressa das pessoas que encontra sua dose cinética nos incólumes passantes. Seu traje auxilia um pouco na diminuição dos trancos, barrancos e engravatados da paulistéia envaidecida. De calça jeans e camiseta você é relativamente importunado, mas não o suficiente para criar teorias tão profundas como a deste esbarradologista aqui.

De terno e gravata, qualquer um é invulnerável, pelo menos ao batalhão de trabalhadores irrefreáveis na sua trajetória com os ombros desocupados e pecadores daqueles que se dão ao luxo de meramente apreciar a basáltica arquitetura da avenida, que mais parece um rio de gente. Agora, se estiveres trajado como um assalariado mínimo, de bermudas, chinelos e camiseta, não importa quem você é--do Popó ao Papa, você será literalmente atropelado, afogado neste mar de gente agendada.O que aconteceu de curioso nesta equação, criação máxima da minha carreira de esbarradologista, é uma nova variável.É dela que quero falar. Anote o segredo e não conte a ninguém.
Estamos em março, mês esquisito em São Paulo, onde uma hora chove e na outra o sol vem rachando e clamando seu reinado no feudo de concreto. Assim sendo, não é possível saber que horas vai chover ou simplesmente parar. Me desculpem os bons paulistanos informados, que compram as oraculares previsões metereológicas. Se vocês crêem em ciência, eu creio em signos, saibam bem disso e fiquem nos seus cantos corporativos. "Cada um é cada um e deixe o cada um dos outros"-- é como Daniel, meu amigo de Santos diz.

No meio desta imprevisibilidade sem pé nem cabeça, decidi comprar um guarda-chuva. Não me dou com o antiquíssimo aparelho, há uma incompatibilidade de gênios entre ele, a geografia e minha memória, mas vá lá: " me dê um, vai". Por dez reais. Dali em diante, meu caro leitor, a vida deste amassado, esbarrado e atropelado ser humano mudou na Avenida Paulista.
Percebi que eu não tinha um mero guarda-chuva. Como não chovia, só cabia a mim carregá-lo, até que Deus, nos trâmites da naturalidade me pôs a andar e carregar o equipamento como se fosse uma bengala não utilizada. Melhor: um cajado. Então se imagine como Moisés, na eclesiástica obra. Eu abria um mar, muito mais revolto e rico do que o de água e sal: erao mar de gente da Paulista.Andando vitorioso, acreditei que tinha achado minha arma, meu nobre artefato em nome da minha existência espacial no trânsito não multado dos pedestres paulistanos. Vi que meu equipamento não era algo raro de se encontrar. Como disse, era época de roda da fortuna com as condições climáticas, e nada melhor do que o incerto para que os que são menos assalariados mínimos ( como fui concebido pela aparência). Todo ambulante ou imóvel passou a vender guarda-chuvas a tudo e todos que tivesse uma cabeça para molhar.Bem, e o que há de mais curioso neste fato? Ah, obviamente você deve se perguntar. A resposta você conhece, e se fores paulistano mais do que tudo:chuva.Com a chuva, só posso lamentar o fim de minha breve nobreza como passante. Todos passaram a abrir seus guarda-chuvas, outros a comprar e então me deparei com o segundo momento mais frustrante da minha carreira como esbarradologista. Agora guarda-chuvas se esbarravam, e entendi que na chuva tudo em São Paulo piora--até o trânsito de...guarda-chuvas!
Amigo, a Paulista parecia o campo de batalha de uma cruzada medieval, provavelmente elencando os sangrentos Templários, pois cada um se defendia como podia. A proteção contra o líquido da vida se tornou uma arma branca. E assim andar passou a ser uma atividade correlata à esgrima. Que tristeza, logo eu que nem pratico o esporte mais básico que é correr, me vejo no meio do campeonato não-declarado de esgrima com guarda-chuvas.Percebi que nesta analogia cada um se defendia com o que tinha. Mulheres mais delicadas com suas armas curtas, pequenas mas de espigões afiados, enquanto engravatados ( os pretores da era guarda-chuviana) abatiam os incaltos com seus poderosos guarda-chuvas negros, amplos e rombudos, tudo do alto da sua impermeável supremacia. O que fiz é meio óbvio, tentei repousar meus olhos na lei, mas ali percebi que estes são seres inexistentes no mundo dos cabos em jota. Eles apenas tomam o lugar de platéia, uma vez que não utilizam o aparato. As crianças, como em qualquer guerra, se agarravam às saias de suas nobres e precisas ( com as pontas dos guarda-chuvas) mães. Animais nos olhavam com terror. Somos estranhos mesmo, não?