quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Como se despedir.

Todo mundo sabe a importância de ser educado. Para isso, é preciso uma boa dose de cortesia, algum conhecimento prático e talvez um bocado de eufemismos. Mas é fato também que passamos boa parte da juventude preocupados com os inícios. Tudo na vida jovem é início e aos poucos precisamos encarar que o "oi" é super-valorizado perto do "tchau" "até logo " e o "adeus".

Eu me considero jovem demais para dar "adeus" para algumas coisas, mas como recentemente entrei nos 27 anos, eu começo a admitir que inegavelmente todos temos uma capacidade para os "adeus".

O "adeus" é dolorido porque todos gostamos de ter controle sobre as coisas. Pessoas expansivas como eu são desligadas, mas sempre estão "pairando" com sua atenção sobre muitos lugares e pessoas. Quando uma porta bate, não nos preocupamos, porque toda ação tem uma reação, e quanto mais forte algo se fecha, mais rápido há de se abrir. Dói demais ver uma porta fechada, seja ela no campo emotivo ou no profissional. Graças ao bom Deus, poucas portas familiares me foram fechadas até agora, e acho que há um senso de justiça nisso, dada minha relativa inépcia em me desligar por completo daqueles que me fazem mal. Mesmo que eu patrocine o combustível daquilo que me faz mal.

O ano chega ao fim, e eu sempre analiso aquilo que veio, que cresceu e aquilo que se vai. Não sei porque, penso em uma sina engraçada, onde o ano novo chega e não me vejo assentado. Se assentar é paz, é tranquilidade e estabilidade, mas é um "adeus" para uma série de possibilidades. Aves em um ninho podem ter segurança eterna, mas só Deus sabe como deve ser complicado enferrujar as asas e não poder sair de seu abrigo, mesmo se uma fagulha lançada pelo vento atear fogo na tão amada morada.

Não entendo de religião, mas dou um chute semi-calculado de que o budismo fala algo sobre o desprendimento. A ficcção de George Lucas brinca com isso ao criar os licensiados Jedi. É preciso se desprender das coisas para que elas sigam seu rumo natural. E isso significa tomar o seu próprio rumo natural. Assim sendo, acho que o "Adeus" pode ser uma força poderosa em nossa vida, mas ela demora para ser aperfeiçoada até ser usada com sinceridade.

Gente, "Adeus" é deixar alguém seguir pela luz divina. É permitir que todos os dados sejam rolados para ela daquele ponto em diante e não torcer nem a favor ou contra. A analogia que faço encontra êxito no futebol: quem abandona o futebol não sabe mais quem joga. Não sabe quem está ganhando. Não acompanha tabela. E não chora nem comemora em excesso com os resultados que lhe chegam aos ouvidos.

Preciso aprender isso. 2008 é um ano par. Tem quem diga que são mais tranquilos, acho que pela exatidão do par em si, que não pede nada para se equilibrar. Muito se pediu de mim em 2007 e eu aceitei ( não de bom grado) oferecer o que me apareceu. Engraçado é que tive de dar até mesmo os tais "Adeus", para uma boa parte de amigos e amores. Não sou bom nisso, nesse negócio de entregar os pontos. Sou ótimo em aceitar uma derrota com xingamentos e promessas de revanche, mas não sei como entregar os livros e fechar a banca para falência.

Assim sendo, gostaria de inverter o pensamento que todos têm sobre o ano novo. Todos são especialistas nos "ois" e introduções. O ano novo é a festa da renovação, mas eu digo que minha reflexão à beira da praia é que não existe muito espaço em nossa linha de existência. É preciso "descongestionar" a mente. O corpo. O coração. Só assim temos como receber com luxo e presteza o futuro que nos traz coisas boas e nos tornamos capazes de segurar aquilo que nos interessa.

Por isso mesmo, recomendo a você, leitor(a), que treine e pratique um pouco o "adeus". Dê "adeus" para o futuro de cabelos desbotados que não o interessa. E isso significa abandonar até mesmo aquilo ou aqueles que o abandonaram. Corte o fio de energia mental que o prende a essas coisas. Porque este tipo de energia emite uma fumaça de frustração muito ardilosa.

Antes de abraçar à luz dos fogos, abra os braços à sombra das águas que levam. Deixe isso acontecer. Escolha, embrulhe e coloque pensamentos e relações variadas para navegarem. Deixem elas chegarem a outros portos, como novidades para o ano novo alheio. Só assim você entra no rodízio e alguém te manda oportunidades e histórias novas, como bons livros que têm o privilégio de conhecer mais de um par de olhos ávidos.

Faça isso. Caso contrário, as águas da mudança param, os fogos da novidade chegam, evaporam o que deveria levar o que entulha sua mente e , invariavelmente, essa lama de "paturo" ou "fassado" vai manchar até a mais alva das roupas de reveillon.

Feliz ano novo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Festa

" Seu nascimento é motivo de comemoração. Por isso mesmo, te dou este jogo do mico. Olha, já fica para aniversário e natal--assim disse a madrinha. Os pais acompanharam a onda, e muito se lutou para tentar mostrar que se veio a terra não por bônus natalino. O tempo passa e ele guarda na memória a única festa de aniversário que teve na infância. Seis anos. E nunca mais. Aos dezoito tentou retomar a tradição. Poucos comparecem, um punhado. Um escândalo montado pelas primeiras intrigas sociais na vida de todos aqueles acabam com sua tentativa de existir no dia de seu nascimento. O primeiro porre de dar dó toma o lugar. Dois amigos o carregam. O estorvo fica bem retratado. A teimosia toma conta, o cenário foi modificado, uma cidade com muitos para serem convidados. Já não conta mais com a amizade, mas com a estatística. Alguém aparecerá. A pequena ambição de meia dúzia de convidados é compatível com o que ele pode pedir. Sem presentes. Sem ligações. Ele se engana. Júpiter não deve ser um bom planeta para seu signo--ele sofre um embaraço por nascer. Novamente. Quase duas horas sozinho na mesa. O garçom e o proprietário do restaurante perguntam se realmente ele chamou alguém. O sentimento já antigo e familiar em todos os seus espinhos toma conta do peito. Chorar não é mais opção para homem feito. Ou desfeito, quem saberá. Poucos e fiéis amizades aparecem, mescladas com mais dois ou três coitados que não sabiam ainda da chaga de suas festas de aniversário que são tudo, menos festas. O ano que vem será mais difícil. "Eles já perceberam como é". Sequer quis lembrar na época que tentava em outra data, achando que seu natalício era amaldiçoado pelo número 21. Pena, mas valeu a tentativa. Chega outro ano. Ele já tem orgulhos e mágoas de presentes passados. Um fantasma o assola. Pensou tenramente na idéia de admitir solitude e aproveitá-la em grande estilo, provavelmente em uma suíte de hotel, acompanhado de vinho, comida de primeira e uma mulher de aparência e preços tão proibitivos quanto o resto da conta. Pena. O mundo ainda não arranhou o suficiente a sua moral para levar o plano adiante. Ri. Foi convencido pelos outros a até mesmo ele negar seu próprio dia de felicidade. Esperemos.
Com sorte pingarão moedas de cumprimentos. Dói quando os primeiros a ligar são inimigos. Eles ligam. Talvez seja o espírito combativo. Isto afasta convidados. Mas pelo menos seleciona mais as pessoas. Até demais, será? São poucos dias. Poucas pessoas. Quem sabe, só mais alguns poucos anos pela frente?"

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Quanto custa ter um nome

Há pouco tempo me mudei. Assim sendo, tive de me embrenhar por horas dentro de um cartório, matando as saudades que nunca tive do pagamento de taxas para conseguir veracidade sobre aquilo que os homens dizem no papel.

É curioso pensarmos que no cartório a palavra ainda vale alguma coisa. Ninguém se leva mais a sério (eu me incluo), mas a sociedade sempre teve mecanismos para fazer valer a palavra de alguém. Antes era o sobrenome. Depois tivemos uma semi-democratização, onde as pessoas podiam fazer valer sua palavra pela igreja. Os dois foram assassinados com nicknames de web e programas dominicais, sobrando o cartório. Assim sendo, o cartório é o lugar onde você pode pagar tudo. Do aluguel ao casamento. De certidões de óbito ao primeiro bem que você adquire, o seu nome.

Para muitos, carregar o seu nome pode ser nada mais do que abrigar seu RG na carteira do bolso traseiro, mas nossa designação neste mundo pode pesar muito até mesmo para calças de cifras proibitivas.

Nosso nome é como a água da vida social, vital para nossa subsistência. Sem ele nos tornamos um homo sapiens sem tacape, e é nisso que eu acredito. Só que um nome sem história também vale tanto quanto uma placa de trânsito ao contrário, ou dinheiro que não está mais vigente.

O nome é só o arcabolso que vai abrigar tudo que conseguirmos colocar dentro dele. Demora muito conseguir algo que preste, mais ainda retirar o que não ajuda a manter o brilho dele.

Ando pensando nisso constantemente. Não pelos outros, não por filosofia, mas porque é minha responsabilidade escrever com atos e palavras e minha biografia. Muitas vezes nos emocionamos ao ver um capítulo crítico de novela, porque isso é intimamente relacionado com a nossa própria vida. É preciso ter estômago para guinar sua história de vida. Isto acontece porque de forma harmoniosa, quando nos ferramos, principalmente no ambiente de trabalho, alguém se dá bem. E ninguém vai apoiá-lo a sacudir a poeira e esticar as rédeas, existentes nos modelos de 1, 2, 5, 10, 20, 50 e, raramente 100 reais.

Quem me conhece sabe que as grades, no sentido amplo da palavra, não me caem bem. Sou capaz de arrancar um braço para seguir meu caminho por livre opção, o que é um traço pouco admirável àqueles que adoram a idéia de um ser dependente. Minha resposta está dentro do que todos que não nos querem dizem: ninguém é insubstituível. É, ninguém é, porque só é insubstituível quando alguém realmente se importa e se congratula por ter cruzado o seu caminho.

É hora de pensar profundamente na sua vida. Com certeza existem opções pouco louváveis no início, mas é verdade que muitos atos de grandeza só foram possíveis porque foram praticados por gente capaz de descer dois degraus e se sujar na lama das opções que envolvem riscos, uma lama gelada que afasta os mais desprovidos de proteção espiritual.

A mudança me cutuca. E pode ser que ela venha para o bem, mesmo que me despeje problemas por um tempo. Analisando friamente, pode ser uma boa saída, uma economia para não perder os prováveis 50 reais que alguém um dia pagou para eu carregar letrinhas no campo principal do meu RG.