segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Festa

" Seu nascimento é motivo de comemoração. Por isso mesmo, te dou este jogo do mico. Olha, já fica para aniversário e natal--assim disse a madrinha. Os pais acompanharam a onda, e muito se lutou para tentar mostrar que se veio a terra não por bônus natalino. O tempo passa e ele guarda na memória a única festa de aniversário que teve na infância. Seis anos. E nunca mais. Aos dezoito tentou retomar a tradição. Poucos comparecem, um punhado. Um escândalo montado pelas primeiras intrigas sociais na vida de todos aqueles acabam com sua tentativa de existir no dia de seu nascimento. O primeiro porre de dar dó toma o lugar. Dois amigos o carregam. O estorvo fica bem retratado. A teimosia toma conta, o cenário foi modificado, uma cidade com muitos para serem convidados. Já não conta mais com a amizade, mas com a estatística. Alguém aparecerá. A pequena ambição de meia dúzia de convidados é compatível com o que ele pode pedir. Sem presentes. Sem ligações. Ele se engana. Júpiter não deve ser um bom planeta para seu signo--ele sofre um embaraço por nascer. Novamente. Quase duas horas sozinho na mesa. O garçom e o proprietário do restaurante perguntam se realmente ele chamou alguém. O sentimento já antigo e familiar em todos os seus espinhos toma conta do peito. Chorar não é mais opção para homem feito. Ou desfeito, quem saberá. Poucos e fiéis amizades aparecem, mescladas com mais dois ou três coitados que não sabiam ainda da chaga de suas festas de aniversário que são tudo, menos festas. O ano que vem será mais difícil. "Eles já perceberam como é". Sequer quis lembrar na época que tentava em outra data, achando que seu natalício era amaldiçoado pelo número 21. Pena, mas valeu a tentativa. Chega outro ano. Ele já tem orgulhos e mágoas de presentes passados. Um fantasma o assola. Pensou tenramente na idéia de admitir solitude e aproveitá-la em grande estilo, provavelmente em uma suíte de hotel, acompanhado de vinho, comida de primeira e uma mulher de aparência e preços tão proibitivos quanto o resto da conta. Pena. O mundo ainda não arranhou o suficiente a sua moral para levar o plano adiante. Ri. Foi convencido pelos outros a até mesmo ele negar seu próprio dia de felicidade. Esperemos.
Com sorte pingarão moedas de cumprimentos. Dói quando os primeiros a ligar são inimigos. Eles ligam. Talvez seja o espírito combativo. Isto afasta convidados. Mas pelo menos seleciona mais as pessoas. Até demais, será? São poucos dias. Poucas pessoas. Quem sabe, só mais alguns poucos anos pela frente?"

2 comentários:

Sun disse...

tah chegando... =)

Xininho...sds...

bjos cretinos,

Tata

Unknown disse...

Nossa já vi esse "roteiro", aliás vejo uma vez ao ano... mas nos últimos consegui a desculpa de estar longe... E esse ano a família preencheu um bom espaço...

Mas faltou um telefonema, um recado, um depoimento "amoitado" (expressão muito usada na distante terra do nunca)...

Agora com o Orkut não tem nem desculpa.

Vou te ligar.