quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Da cama ao monitor.

Sete e quinze. Não. Sete e quarenta e cinco. Mais cinco minutos. Porra de despertador digital. Destruí-lo é acabar com minha agenda telefônica. Por isso, sou refém deste arauto sonoro da Sony-ericsson. Foda-se.

Oito e vinte e dois. Ok, melhor levantar. Vou tirar os pés. Até aviões se preparam com calma para decolar ou aterrisar. Jamais saí mais de 10 cm do chão, mas vou levar a sério a comparação.

Oito e quarenta. Levante-se. Ninguém vai vê-lo na multidão. Descarte o banho. Descarte a escova de dentes, sua prima pobre o aguarda no destino para uma escovação tardia.

Elevador. Porteiro. "Opa"-"E aí"- conversei com ele, o suficiente. O rio da Dona Veridiana está bom. Só 3 esbarrões. Endureço o braço. O mau-humor vira uma ombrada em um nordestino. Nada contra, mas a esta hora quero que uma bomba H caia em sua terra seca e fétida. Me desculpe, sou humano.

Metrô. Corra. Sentido Barra Funda. As pessoas estão para sair, só um lance de escadas. Ok. Consegui. Abro meu amigão. César vai contar como a vida pode ser grandiosa com sangue. O suor moderno não dá nem de longe um relance do que leio.

Estação Presidente Altino. Todos descem. Um baiano entra antes de todos saírem. A visão de 14 tiros naquela remela social me vêm à mente. Ótimo, não tenho uma arma. Minha vida segue, a morte dele também, lenta e miseravelmente remunerada.

Aguardar o trem. São nove e alguma coisa. Meu atraso começa dentro do trem. Um agricultor bêbado pergunta sobre seu corte de cabelo aos pobres coitados que cruzaram seu olhar com o dele, trincado como o vidro dos vagões mais desafortunados.

Jurubatuba. Um trem mais digno. Música clássica desligada hoje. Ar condicionado também. O tempo paulistano é jazz tocado em graus centígrados. O casaco e a camiseta se sentem inúteis. Mas o fedor está lá. Sempre há uma pessoa que pulou o banho, como eu, mas há 3 dias. Assim parece ser.

Uma bela mulher no vagão. Não bela, factível. Pés bonitos. Eu olho, ela se encolhe. Não, amiga, não terei uma ereção matinal no trem. Mas seus pés são bonitos, não muito...mas é nisso que me fixarei, caso contrário restará o maldito do bêbado para me divertir.

Pilhas. Rádio, testado na hora, pessoal. "Tráid", chiclete macio. O serviço de bordo de quem se fode começa. Fudidos servindo fudidos.

O cego da vez entra. Ele martela a miséria e sua posição escrota com a bengala. A legenda é clara, até mesmo para quem pode ver e não quer: "Pam! Quero dinheiro! Pam! PAm! Me dá alguma coisa, seu bando de malditos! PAm! Sim, eu faço isso há 3 anos e me acomodei por aqui. Pam! Não, não me importo!" O truque deficiente-circense rende 3 moedas com alguém que entrou para a turma do trem espanhol e ainda não sabia como um cego ganha mais que eu e metade do trem, só batendo a porra da bengala.

Estação Vila Olímpia. Há esperança? Não sei. Mas a escada rolante me coloca um degrau abaixo de uma bela morena. Seu rosto é desconhecido. Sorvo meu dízimo. Um cheiro doce, perfume matinal. Incrível. Cotoveladas, aperto, fedor, pilhas, rádio e bengalas capitalistas me levam a três inspiradas. Ótimo. O dia pode acabar bem, um desconhecido, como essa mulher que para mim parece ser útil apenas para que meu nariz lembre de que coabita o mesmo corpo de partes mais utilizadas para me dar prazer.

Um cigarro. Antepenúltimo. Está quente e frio. Andar. Calçadas arrebentadas se empertigam para receber os sapatos sociais e escarpins de gente que no geral ganha menos do que parece.

O caminho até a agência é invisível. Pensei em algo. Mas acho que não era relevante. Os dois que chegaram antes de mim, no horário, fumam.

Eu subo. E a porta está trancada. É, não deveria ter saído tão cedo da...escada rolante, é claro.

Um comentário:

DiegoFerrite disse...

trejeto conhecido de muitos novos pulicitáríos da vila olímpia. Porque não inventam a porra de um metrô direto pra cá heim?