Certa vez, em uma daquelas em que nos sentimos sortudos demais, ouvi de um recém-conhecido após uma troca de figurinhas e histórias de vida:
–Cara, você tem diferentes talentos. É legal, isso, hein?
Minhas resposta—e ela em si já é o ensejo desse post perdido em um silêncio eterno por aqui—foi novamente sincera:
- Sabe quando você pega o seu telefone e liga para qualquer brother para tomar uma cerva? Bem, eu já fui educado pela estatística empírica a parar de fazer isso.
- Sabe quando você faz aniversário e aparece alguém que você não esperava? Eu ainda estou esperando esse dia.
- Sabe quando você encontra alguém que não vê há tempos e a pessoa quer marcar uma—e de fato marca. Nem marco mais no meu celular.
Ou, se preferir algo mais “maduro” , algo que remete ao meu lema, muito provavelmente outra herança da minha maldita mania de ser um resmungão otimista:
“ Sou como uma dose daquelas bebidas fortes que todo mundo pede:
Não é para qualquer um engolir.”
A primeira resposta para esse dilema sobre “será que eu sei ou não fazer amigos” surgiu de um toque sábio de um colega da faculdade. Esse pelo menos foi em tom de brincadeira:
“—O André é um daqueles caras que você pergunta como ele está…e o pior é que ele fala mesmo.”
Praticar sinceridade é como quando uma moça, à fila do supermercado, compra uma revista com a nova dieta da Luciana Gimenez e a coloca orgulhosa no seu carrinho--recheado de donuts e lasanhas congeladas. É balela. Mas tudo bem. Pode ser. Todo mundo faz, então não pega nada.
Então sinceros não fazem amizades? Só as pessoas que sabem ser coquetes, que tem o dom da
“ diplomacia” ou da “negabilidade sorridente” podem ter amiguinhos?
Opa. Aí é que está o pulo do gato—ou do que você pode chamar de mala.
(Se chamou de mala, por favor: aperte a tecla “f” do seu teclado e conte até dez.
Conte quantos f`s apareceram na tela e vá se foder a mesma quantidade. Obrigado. Agora continuemos.)
Esse tipo de comportamento pode ser amplamente aceito—é fácil fazer uma criança aceitar chocolate, não?—mas não busca realmente amigos.
O que rola na verdade é que eu te digo que, enquanto eu tenho aniversários ou eventos com menos pessoas do que você vê no comercial da cerveja do verão, eu pelo menos posso cuspir na cara de muita gente e falar:
Os dois amigos-amigos-e-não-brothers que eu tenho são à prova de balas.
São amigos com teflon. São pra valer. São a porra do fucking Chuck Norris do seu lado. São quem coloca no chinelo qualquer porra de filminho sobre amizade do Pão de Açúcar com o Gilberto Gil falando pra você fazer "ah, é mesmo, que legal"
Na música. Nela, como em tudo que faço, eu falo como estou, como penso e como acredito nos meus sonhos. Eu falo do que deu certo, do que queria que desse certo e sim, das muitas merdas e cagadas que eu já fiz e já fizeram comigo.
E meu...é engraçado como as pessoas não te conhecem, não sabem se você gastou dez reais ou dez mil para chegar até elas, se você já é ou não famoso…mas elas, sem nenhum estudo específico, há 10.000Km de distância conseguem discernir se você é algo de verdade ou algo feito para te fazer parecer com algo que elas querem encontrar.
Sério. Pensou em fazer algo para que elas acreditem na sua música...pode parar. Para, é sério. Mesmo. MESMO! rs
É nessas horas, quando eu converso com alguém que acabou de conhecer a Bravado—e falo pra caralho com desconhecidos sobre o que eles quiserem conversar, tudo sem muitos rodeios...nessas horas eu penso:
”Diplomacia faz colegas e é isso o que todo mundo faz. Mas aqui não é terra de quem é raso ou de quem faz o que todo mundo faz. Obrigado, Deus. Obrigado! Puta que me pariu, que bom.É tetraaa! É tetraaahhh!”
O que eu acredito é que, se algum dia você pensar que é preciso habilidade para fazer amigos, coloque as palavras nos seus devidos lugares.
Para fazer contato social superficial é preciso habilidade.
Para fazer amigos, tudo que precisa é a coragem de pagar o preço de ser chutado por 99% do mundo para encontrar o 1% que vai usar os braços não para te dar tapinhas nas costas (odeio), mas te abraçar pela vida afora.
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