terça-feira, 19 de novembro de 2013

UMA VIDA EM BRAVATA

Faz tempo que eu não escrevo aqui. Muito tempo. Mas acho que tudo tem um motivo. 

Quando eu postei aqui pela última vez, era publicitário e músico--mas principalmente desiludido com as duas ocupações. Vindo de uma fuga de uma carreira que não me apetecia, me peguei realmente desiludido com o sentimento de poder fazer qualquer coisa que todos nós temos em algum ponto da vida, em geral quando somos bem jovens.

O tempo passou e tive de tomar decisões duras, amenizadas apenas por aqueles que me apoiam no dia a dia, como meu pai. Embora ele não invista na minha nova decisão de carreira (que já não é tão nova), ele é minha pedra-fundamental no dia a dia, a pessoa a quem recorro sem a menor vergonha ou hipocrisia quando não consigo MESMO resolver uma questão financeira.

Ele ajuda como pode e assim vou indo. Falo que vou indo porque a decisão de sair de toda e qualquer agência de publicidade, perder o conforto financeiro que ela me dava e trocar isso pela missão hercúlea que é se lançar como artista full-time não é fácil.

A primeira perda é óbvia: saldo na conta bancária. A segunda é quase que uma consequência da primeira: o orgulho. Sou um sagitariano e tenho sim minha dose de orgulho, sempre gostei de caçar o que quero e é difícil hoje depender de uma miscelânea de favores daqueles que me querem bem e acreditam no sonho para viver. 

A Bravado começou  como uma piada, uma bravata mesmo e hoje já cresce a olhos vistos, mas nada me consola quando uma simples conta de  "luz/internet/seja-lá-o-que-for" chega. Esse desespero já me levou a atitudes para comigo mesmo das quais me arrependo, mas ele é reflexo de um misto de amor e visão do que posso e vou fazer VS. a educação de visão de mundo que sempre tive. Não me acho especial por isso, pois é meio óbvio que qualquer pessoa no ramo das artes deve passar por esse constante dilema, um dilema que muitas vezes deflagra completo desespero quando se vê que no overall, no geral, arte no nosso país é "gambiarra", é "favor" é "vamos ver" e nunca uma atividade que outros reconhecem como um ofício constantemente aperfeiçoado, dono de uma parcela gigante de tempo e outra ainda maior de investimentos a perder de vista na hora de pensar em como recuperá-los.


Entretanto, não quero deixar o post como uma coisa cinza. Eu ainda estou nesta nossa Terra de fé e pecado e não me cabe ser injusto com as graças que tenho recebido. Tenho uma sorte monstruosa em ter fechado finalmente um time do qual eu tenho orgulho e com o qual sinto uma confiança capaz de me deixar fazer meu papel. Sou grato a todos que vieram antes, a despeito de alguns me odiarem pela decisão de não tê-los mais na banda, mas a vida é assim.

Sou grato pelo trabalho constante que nossa produtora faz para nos manter na rede. Sou grato pelo apoio passado e constantemente oferecido pelo Freitas e Cláudio na produção do som. Sou grato à Bet Gallo pelas fotos que infelizmente não podemos mais usar e que ela de bom grado produziu. Sou grato pelos poucos e fervorosos fãs que vivem me repetindo para continuar na estrada, acreditar que o que eu faço não é só bom mas necessário no nosso cenário cultural atual. Enfim, eu tenho é de reclamar menos e agradecer mais e é isso que tenho feito.

Se isso é Karma ou força divina, lei da ação e reação, não sei: mas tem se mostrado eficiente. O exercício de encontrar aqueles que querem o seu mal e não deixar que isso entre em você na forma de vontade de retribuir o favor, a escola que tem se tornado olhar mais pro trabalho a ser feito e menos para os olhos de quem te desmerece por motivos pequenos ( seja lá inveja ou raiva, frustração ou miopia mesmo) e a escola espiritual que tem sido abrir o peito para os que te apontam flechas é o conjunto mais precioso de presentes que eu poderia receber pessoalmente.

Neste último feriado, depois de meses sem fazer shows ( suspendi a agenda para isso), voltamos aos palcos. Foi o show em Itanhaém-SP, em uma situação onde muita coisa parecia agir contra a gente. Eu falarei sobre esse show no próximo post ( merece), mas aqui resumo que tudo deu MUITO certo e sinto que houve um misto de sorte e preparação, dando fundamento ao clichê que é a máxima "a sorte escolhe aqueles que estão preparados".


É isso aí. Há anos que não sou o André estudante de Direito. Há anos que não sou o André advogado. E hoje faz mais ou menos 1 ano que eu não sou o André redator-preso-dentro-de-uma-agência. Hoje eu sou o André Bravado, o cara que não mais sonha em ser um artista, mas vive essa vida graças a uma dose incrível de apoio e carinho visíveis em atos das mais diferentes pessoas, indo da minha família à galera que cerca a banda e toca nela.


Portanto, se há algo que posso fechar no post é que penso a cada dia que o nome dessa banda não poderia ser melhor, pois quando  tudo isso começou pensei "se você não tem coragem para fazer algo, INVENTE coragem e faça. A vida, ao contrário das pessoas não difere coragem e bravatas, pois para ela o que vale é o que você faz de si mesmo e para os outros."


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