segunda-feira, 2 de novembro de 2015

De sobra


Como em um retiro pessoal, retorno à minha caverna de textos, ou seja, aqui.
Já se acumulam mais de 12 semanas desde que me adequei à vida que não planejei, aquela em que eu por mim tenho que me bastar.

E é irônico ver como agora eu sinto o balanço do trem entre as diferentes estâncias: O só, o sozinho e o solitário.

No "só " há o bonito, onde a luz própria me cerca de bons amigos e amigas em papos que me dão a sensação de ter sido em algum tempo um astronauta agora de volta ao planeta. Ali o sentimento é de gratidão, de pura alegria em trocar informações. Nesse momento do "só" fecho tudo com a palavra
"ABRAÇO".


A onda bate, e o barco tem de mudar de posição.

E então entra o momento do "sozinho". Esse é agridoce, pois ao mesmo tempo que nos dá a percepção de que há uma lição que não se aprende de outra forma (a de se bastar), é também o momento mais vulnerável, pois no "sozinho" existe a situação de estar acompanhado, cercado de gente, mas se sentir deslocado. Mais do que isso, é aqui que me encontro agora, na hora desse post. É um sozinho que de vez em quando se agiganta, vira um tipo de "sozão". Seja por me desprender da companhia que tenho (mentalmente) ou ser desprendido pelo reflexo de "bode" que tenho visto ser mais constante que espirros ao alérgico, a dor que surge não é da situação inicial (ser só), mas da constante frustração de achar que o momento irá mudar, ver o cenário clarear até que se confie colocar os pés para fora da bolha e sentir que na distância que nos impede de retornar ao fino invólucro de proteção que se criou, você irá novamente se escaldar. A esse momento dou a palavra "QUEDA", pois por mais que se caia, é inerente a uma queda que se encontre algo sólido ao final, o que nos permite não só nos ferirmos, mas também levantar. E isso significa que é inexorável que eu retomarei os mecanismos de anti-queda.


Por último, esse momento em que o barco vira um túmulo flutuante: o "solitário".

Solidão é hoje uma palavra que eu percebo ser bem menos dramática. Antes eu a confundia com o "sozinho", mas isso se mostra uma noção idiota. Solidão é o status quo do estar isolado. É algo que só ganha dimensão quando mudamos a página da vida e percebemos que o tempo passa, passou e está ainda a passar e o cenário à sua volta (social) vai ganhando cimento em sua mistura antes 100% composta de uma areia fina e absolutamente mutável.

Solidão é preocupante. Pois ela revela o perigo de não só ferir, mas nos treinar a gostar dela.
Tento refletir ao máximo esse momento de navegação em um barco de 2 remos e 1 lugar. Mas é preciso se manter em um rumo que ao mesmo tempo não pode me desanimar de passar por essas águas sozinho, também não pode me fortalecer de tal forma que eu fique à deriva mesmo após aportar.

Logo, a missão é entender que o destino da viagem não está no mapa, mas no navegante.
Se me dói ser assim? Sim. Mas se há uma coisa que me consola é que se o barco que tenho hoje tem menos lugares (1 só), dar "carona" nessa vida exige de mim também mais cuidado.

Assim sendo, àqueles possíveis amigos; àquelas possíveis amantes, fica o meu muito obrigado por suas sutis e muitas vezes educadas fugas e distanciamentos. Pois se há dor em ver tanta gente a recolher mãos, beijos e abraços, também há agradecimento e entusiasmo. Afinal, se ao me portar ainda que mais equilibrado ainda percebo ser incapaz de me emular e me "tornar" aquilo que vejo (no espelho dos olhos e discursos das pessoas) ser "o que eu desejo para ter ao meu lado" por parte dessas pessoas, estou certo que novos amigos e amores só podem chamar o que há de melhor em mim de verdade com um ínfimo compromisso chamado "atenção".

E essa atenção anda cada vez mais dispersa.

Chega de prosa e bora remar, pois esses três ("só", "sozinho" e "solitário") não vão desembarcar em pleno mar, não é mesmo?


Nenhum comentário: