quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Café pequeno

"Aonde você estará aqui a cinco anos". Esta é uma das frases adoradas pelas araras imbecilizadas do RH.

Todo mundo tem que se imaginar poderoso. Claro. É a era de milhões de "Césares". Queria saber quem é que vai ser soldado. Todo mundo sabe que a maioria é peão, mas o complicado é negar a situação atual que cada um vive. Não tem problema nenhum você começar pequeno. Menos ainda se você permanecer assim por mais algum tempo. Complicado é você chegar aos 70 e continuar negando que é zé. Para deixar de ser zé, é preciso admitir que se é zé.

Oi gente, eu sou Andr...zé.

Quando comecei a história de publicidade me imaginei com facilidade para ganhar dinheiro. Acho que, com as idéias que eu tinha, não seria difícil mesmo. Mas o problema é que para chegar ao ponto de poder mostrar e aprovar uma idéia, você tem que afogar muitas partes de seu gênio criativo. Você aprende que existe uma diferença entre o ótimo , o aceitável e o aprovável.

O último tipo é que mata qualquer idéia. Você aprende porque o arroz e feijão é o prato da massa. O óbvio é o seguro, e quando você trabalha em uma agência pequena, isso é o que manda. Depois de ousar e perder este tempo para retrabalhar até as altas, você inconscientemente cria um "cala a boca" para você mesmo, à procura de algo que entregue o pedido e não te encha o saco amanhã.

Cruzei recentemente com um ex-colega da primeira agência de publicidade em que criei, uma daquela "júniors". Todos já me alardearam que ele anda muito bem, recebendo miséria mas trabalhando em uma graaande agência.

A matemática é feita na hora: Eu escolhi ganhar algum $ ( algum, não muito, tanto que não tenho independência financeira) e ele, o ego. É como ser um mendigo, trabalhando como roadie do Mick Jagger, enquanto outro é gerente da barraca de cachorro-quente.

No final, tudo se resume a como cada um decidiu dar importância para o que se vê.

Ser "café pequeno" não é problema só na publicidade. Quem não prestou jornalismo e já saiu se imaginando cobrindo o último escândalo em Brasília, ou prestou Direito e se imaginou juiz do tribunal de justiça....até os nutricionistas e botânicos devem se imaginar longe quando começam.

Mas ninguém lembra que vivemos a era da concorrência, onde até para cagar tem alguém que faz isso com menos esforço e gasta menos papel e água na descarga. Todo mundo ganha mal, o mundo anuncia cada vez mais opções de gastos, e eu sei lá onde isso acaba. Alguns se matarão no caminho, outros vão viver no meio disso e outros simplesmente decidem tirar a gravata, acender um baseado e vender côco na praia. Escolha o seu rumo com coragem, não com um Ecosport na garagem.

Alguns já me ouviram falar de algo que achei fascinante: "você quer o que para sua vida? ser rabo de baleia ou cabeça de sardinha?"

Eu escolhi a sardinha. Gosto de ter relêvância no rumo da carruagem. Gosto mesmo. Prefiro acertar um gol de trivela ( ou no mínimo ter a chance para tal) na segunda divisão do que ser o "esquenta banco" da seleção brasileira. Tem gente que se satisfaz, trocando o pinto ou os seios pelo nome do lugar onde trabalha, e não compreende que isso só alcança um valor real quando existe de fato.

Quem trabalha de forma plena em um lugar grande está nele. O resto, amigão...é como fã do KLB no alambrado. Dorme na rua, em frente ao hotel. E se der sorte ( ou algo mais), consegue falar com o bam bam bam. Vejo grandes publicitários reagindo contra a "idolatração" ou "mitificação" dos grandes nomes da publicidade, mas é fato que algo ele terá de ganhar depois de anos dormindo mal. E eu não estou falando de três ex-esposas, 4 filhos desconhecidos e uma úlcera. O ego é uma pomada milagrosa para essa gente sofrida.

Tento me manter com a minha "egozite" sob controle. Até mesmo porque preciso admitir que sou zé. Sim, eu sou zé. Ainda. Não vou conquistar o mundo, é uma pena. Por isso eu ainda jogo War ( xingando) e começo a traçar coisas mais factíveis. Talvez consiga avançar e fazer o lugar onde trabalho crescer, criar um César e esperar alguma recompensa. Talvez eu simplesmente resuma a equação da vida a "quanto se ganha" e congele de vez alguns valores que fazem alguns de meu círculo rirem por dentro, até que a idade e a distância de riqueza os permita rir largamente com um copo de uísque.

Este texto foi só uma olhada para fora da canoa. Eu sei que muitos estão na mesma que eu. Sei que alguns decidiram ir para o "rabo de baleia", ganhando um crachá número 34560-B e batalhando para que algo aconteça e ele ganhe uma baia com mais 10 centímetros de espaço.

Vários "zés" e "mariazinhas" no rio. Vamos cantar um hino alegre e pedir a favorita, exclusiva de quem não conquista nem a Dudinka:

"Um cafézinho curto, sem açúcar, por favor"

Pagar no caixa, obrigado.

Um comentário:

Sun disse...

acabei de ler teu txto... eh bom ler isso enquanto se estah na empresa, praticamente 23:40hrs numa sexta feira...

enfim... soh me resta ir na máquina pegar um café...rs

bjus Xininho.