terça-feira, 6 de novembro de 2007

Nossos jardins

Eu sei. É, texto sobre jardins. Sem novidade. Eu já começo batendo palmas para Mário Quintana. E agora eu me dou ao direito de falar com o papel de fundo "jardins".

A primeira ironia é que todos adoramos esta metáfora, mas ninguém tem saco para ficar sentado em um jardim. Poucos sequer tem como ambição "morar em um lugar com belos jardins". Mas adora falar em cultivar. Carreiras. Amigos. Amores. Whatever. A gente cultiva muita coisa, mas a verdade é que uma ínfima fração entende o processo.

Eu vejo que já ando meio contaminado com esta praga dos jardins metafóricos. São Paulo é mestre em ensinar que existe uma chance pequena de que você consegue colher algumas coisas sem semear. É um milagre da agronomia comportamental, mas aos poucos você entende que até mesmo os milagres tem estoques limitados, antes do final da promoção.

Eu já saquei isso há algum tempo. Daí você vê como tudo tem uma lógica. Até mesmo para os que não passam mais do que 30 minutos com um jogo de sudoku na mão ( terminando ou não).

É bom existir a necessidade da semeadura. Empregos ganham brilho extra quando você semeia e tenta por muito colher 1 ou 2 grãos de feijão em um solo que parece paupérrimo. Os amigos, nem se diga. Você retorna à origem da palavra, percebendo que é preciso escolher e cultivar os amigos, e estes, lamento dizer...não chegarão ao mesmo número de dígitos dos contatos de seu msn ou orkut. "O Lula tem bons amigos porque os conta com a mão esquerda." Sabe?

O meu jardim hoje em dia tem dado alguns frutos. São poucos , muito poucos ainda, mas sinto-me um "Sassá Mutema" da vida moderna, obtendo meus primeiros mini-troféus na área profissional. Claro, o cultivo do meu corpo anda um lixo, até penso que um dia minha consciência vai pedir desapropriação de terra por falta de uso deste campo, mas a mente tem se mostrado uma cultura muito agradável e o coração anda com projetos inovadores. É preciso. O sofrimento não combina com o quadro dos homens bobos. E eu sou um abobalhado de nascença. Prefiro ser palhaço e homem-moleque do que me imaginar assinando algum livro com um portentoso cachimbo em uma foto sépia. Por isso, espero ansiosamente pelo possível cultivo de uma nova "plantinha", mesmo sabendo que cultura nova tem zilhões de riscos e que no final tudo pode não vingar. Mas é isso que dá o valor dos frutos mais caros na feira. Se damascos nascessem em qualquer rachadura de asfalto, você não os compraria só no natal, não é?

E é isso que eu quero pra mim.

Entrando nas últimas recomendações ( antes de abandonar e cometer heresia na metáfora de Quintana) é válido um cuidado redobrado no cultivo profissional e afetivo na cidade grande. Gafanhotos e pragas de todos os tipos adoram nutrir sua natureza pestilenta logo no começo destas culturas, por isso mesmo o negócio é cultivar em estufa, no início, pelo menos. Caso contrário, dificilmente terás o que espera e pelo que plantou.

Também vale cuidado com um tipo de praga mais comum aos que adoram chamar todo mundo de "amigo": as raposas. Estas então, nem se fala. São seres de proceder ardiloso, esperando a formação dos mais belos frutos para aí então abocanharem o que não é de sua propriedade.

Por último, o que posso dizer? O cultivo da vida é o único solo onde é melhor você evitar as idéias de minhocas. Pense em coisas diferentes, como aquele tatuzinho de jardim...;)

Um comentário:

Sun disse...

"Lobos que vão se comer entre lobos..."

não sei pq essa frase nunca mais saiu da minha cabeça...

Raposas, lobos... dah na msma... mas a gente aprende, ô se aprende.

To gostando de ler seus txtos... de manhãzinha ow depois do almoço...

beijos Piá