segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Hercúleos esforços em prol do nada

Ao encontrarmos amigos a grande pergunta é "o que tem feito", e ela é nada mais do que uma atualização da jornada daqueles que gostamos. É um instinto. Mesmo feita por inimigos, a pergunta reverbera por toda nossa agenda, nossos compromissos e projetos aos quais damos ou não importância. Todo mundo adora perguntar um "e aí" e isso é inegável. A primeira novela nasceu de uma amizade próxima, e a cumplicidade pode trazer episódios mais emocionantes do que os capítulos finais da novela das oito.

Até aí tudo bem, mas eu não sei porque cargas d´água me cobro com relação a isso. A conclusão de projetos é algo muito menos atraente aos olhos dos outros do que o anúncio de um novo, mas isto só acontece quando pegamos fama por ser uma pessoa que faz acontecer. A fama é o de menos, pouco me importo com isso, até mesmo porque já carreguei esta pedra nos mais diferentes formatos e pesos, da mais otimista até a ofensiva. Fama é algo que te dão e ponto. Mas a sua auto-imagem, ou melhor, a minha, é coisa séria.

Quantas noites ou crises azia tenho pelos meus projetos. O relógio é um cão infiel com doze números e a verdade é que quase nada é passível de realização sem o apoio de alguém. Mesmo que seja para levantar uma bandeirinha ou acenar levemente com a cabeça. Precisamos do apoio dos outros, e convenhamos que novela alheia não é pauta de suma importância para qualquer telespectador. Então eu passo a quebrar a cabeça em como fazer acontecer aquilo que persigo. Sozinho. Não é drama, só o "Sampa way of life". Uma multidão de problemas engarrafada em ruas e apinhando estações de trem. Nada mais justo, dada a solução financeira que a cidade oferece.

Mas ultimamente andei pensando em frases que meu pai anota desde os 20 anos. Ele é um leitor daqueles desinteressadamente cultos, uma daquelas pessoas que nos cativam pela naturalidade do conhecimento que é adquirido pelo tesão próprio. Nunca foi a festas cult ou fez considerações em congressos, e discursa relutantemente uma vez ao ano na sua comunidade cívica.

As máximas anotadas em um caderno são um grande manual sobre a boa vida, frases curtas e grossas--mas profundas--que colocam em cheque trezentas vezes minhas reflexões deste blog. Talvez um dia ele me empreste o caderninho de folhas amareladas aí sim me dando por feliz.

A frase que bate com este texto é a seguinte: " O silêncio é a qualidade da palavra" ou algo assim.

Sou um tagarela nato, então imaginem o impacto atômico que isso causou na minha maneira de ser. Mas depois de discutir com meu pai ele me explicou que a frase vai mais além, até mesmo do ato de falar. Disse que é preciso um esforço dobrado para apenas "ficar" e esperar o que é seu por direito vir até você. Imaginem se o condutor da balsa ou o capitão de um navio não soubesse o que é isso, sempre acelerando com os motores. Na hora de aportar, um desastre seria inevitável. Eu começo a entender que o ato de "recolher os remos" e confiar no que foi feito é coisa tão valiosa quanto as remadas fortes que damos em direção ao que desejamos.

Desejo muito para a minha vida. Sou um filho da puta para muitos por isso, dada uma série de ambições que muitos fracos de caráter consideram proibitiva. Não tenho a menor vergonha de dizer que me sinto preparado para um dia ser milionário. Que pretendo casar com alguém digna de livros e admiradores post mortem. Que talvez seja um baita artista cantando minhas composições, mandando à merda muita coisa que todos tem medo de sequer deixar encostar a palavra. Ambições patéticas? Me formar uma vez já foi parte da lista. Conquistar um novo vestibular também. Até mesmo cantar, aos meus 16 anos, era motivo de piada para muita gente. Acho que todo mundo tem que se dar ao direito de perseguir coisas decentes. Mas como perseguir isso da melhor maneira?

Uma amiga minha, compatível com o modo operante esdrúxulo que mantenho em minha vida, me disse uma daquelas obviedades que ganham sabedoria por serem imbuídas de uma sinceridade obscena:

"Para ganhar não tem jeito. É preciso perder, sempre"

E aí você pensa: "dã". "Dã" é o caralho. Quantas vezes eu não me peguei puto por ter de entregar algo para conquistar a mesma meia dúzia "mais" alguns gramas de realização? É de fuder. A gente sempre pensa nos ganhos de forma exponencial, enquanto pensa em frações na hora de entregar. Seja na vida profissional, no gerenciamento de tempo ou no amor, é o que fazemos inconscientemente.

Assim sendo, começo a jornada em nome do nada. O nada. A arte de analisar a hora de simplesmente "parar de remar" e esperar a jornada alcançar calmamente seu porto. É preciso. Senão, depois de alguns portos, serei só um monte de experiências amassadas.

Um comentário:

Sun disse...

sábio... me deu uma idéia... vou te contratar como meu psicólogo! rs

bjos Xininho.